Gente ajudando gente! Sérgio da Silva Almeida  

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Cresci ouvindo histórias sobre a grande enchente de 1941. E agora, 83 anos depois, vi de perto a força da maior enchente da história. Cataclismo que deverá ser registrado nos livros de história por ter ultrapassado, e muito, aquele episódio traumático que os mais antigos têm bem vivo na memória.

Eu estava dando palestra in company em Santa Maria, quando os primeiros pingos de chuva começaram a cair. E ao saber pela JGTV que a BR 392 tinha bloqueios, só consegui deixar a cidade três dias depois pela BR 158 que leva a Rosário do Sul, e lá, debaixo de mau tempo, pegar a BR 290 até a Cabanha Quinheca, no Irapuá, interior de Caçapava do Sul, onde permaneci com meus pais, à espera de entrar em um tempo de boas notícias.

Com o passar das horas, a água acabou e a luz apagou. O banho diário era no Posto Sim Laranjeiras, onde eu também podia acessar o wi-fi para saber das notícias e falar com minha esposa em Caxias. Lá, quase sempre eu encontrava uma família que teve sua casa invadida pelas águas: “Saímos só com a roupa do corpo”, comentavam.

Na segunda-feira, ao saber que veículos leves teriam passagem liberada pela ponte sobre o Rio Jacuí, em Rio Pardo, e pela ponte sobre o Rio Taquari, entre Lajeado e Estrela, não pensei duas vezes: fiz um kit com pão e água e ativei o modo “partiu, de volta para casa”.

Em Rio Pardo, um voluntário me alertou: “Na ponte, pise no acelerador”. Sério ou de zoeira, obedeci! Do outro lado, encontrei outro voluntário e, por conta do acúmulo de água sobre a pista, perguntei se havia desvio. Ele me respondeu: “Vou levá-lo até o outro lado do aguaceiro, siga-me!”. E, após me guiar durante todo o trajeto, fiquei sabendo seu nome: Zeca Severo, morador do Distrito de Rincão Del Rey.

Os voluntários estão por toda parte. Civis que, em meio a um cenário apocalíptico, deixaram suas atividades de lado para ajudar o próximo. Frente a um estado lento e ineficiente, muitos colocaram em movimento iniciativas para ajudar as pessoas em suas necessidades, seja oferecendo um copo d’água ou até mesmo uma palavra de encorajamento. É gente ajudando gente!