Meu nome é Rádio- Sérgio da Silva Almeida.

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Eu ainda não havia terminado a palestra quando as nuvens começaram a lançar água durante a noite santamariense. Os relâmpagos iluminavam a cidade e a terra se abalou e tremeu. Ao longe, era possível escutar as sirenes de ambulâncias, polícia e bombeiros. E assim permaneci, por três dias, no coração do Rio Grande, debaixo de mau tempo, e só consegui deixar Santa Maria pela BR 158 que leva a Rosário do Sul, e lá, pegar a BR 290 até a cabanha Quinheca, interior de Caçapava do Sul, onde fiquei com meus pais, à espera de entrar em um tempo de boas notícias.

Durante os dias em que estive na cabanha, sem água e sem luz, o velho radinho a pilha de minha mãe foi meu companheiro e me manteve atualizado sobre a situação das estradas gaúchas. Ele relatava a verdade crua sem o uso de imagens, e eu tentava imaginar o “cenário de guerra” que se transformaram as cidades gaúchas.

Foram dias de melancolia, e um filme passou na minha cabeça ao lembrar do tempo de guri. Meu avô me acordando de madrugada para tomarmos chimarrão em frente ao fogão à lenha, ouvindo pelo rádio as primeiras notícias do dia. Minha avó chamando para o almoço – que era servido re-li-gio-sa-men-te às 12h – com o rádio sintonizado em sua emissora preferida para escutar “A hora das comunicações”. Se bem me lembro, a vinheta de abertura era uma estrofe da música “Comunicado”, interpretada por Oristela Alves na 13ª Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana: “Atenção, no interior, Nico Changueiro, onde se encontrar. Peço que venhas ou mande dinheiro. Quem ouvir esse, favor avisar”.

Diante da situação de calamidade, o rádio a pilha se tornou protagonista em cidades ilhadas. E foi tão importante, a tal ponto de grupos de voluntários promoverem campanhas para doações de rádios e pilhas. E eu, agora que a vida voltou pro lugar, me recordo do momento em que coloquei meu moderno aparelho celular – que, sem bateria, se calou diante do temporal – ao lado do quase arqueológico radinho a pilha – que prestou um importante serviço ao povo gaúcho – e ri ao imaginar o mais velho, numa postura humilde diante do mais novo, se apresentar: “Olá, meu nome é Rádio!”.