Sinos para dona Emilda- Sérgio da Silva Almeida-Crônica

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Senti-me honrado em ser jurado do 2º Concurso de Crônicas Armando Fialho Fagundes, em Cachoeira do Sul, evento promovido pela Academia Cachoeirense de Letras. A temática “União pelo Rio Grande”, visando retratar momentos delicados vividos pelos gaúchos que sofreram com a enchente que entrou sem pedir licença e devastou o Rio Grande, me chamou atenção.

Volta e meia, a organização do concurso enviava, via WhatsApp, as crônicas que iam chegando e eu, em meio às viagens, às lia pelas estradas, ruas, hotéis, restaurantes e intervalos de palestras. E como nunca tinha visto nada igual, me emocionei com alguns textos. Todavia, foi “Sinos para dona Emilda”, de Márcia Keller Alves, que tocou meu coração.

Márcia, que reside em Caxias do Sul e participou de ações solidárias no interior da serra gaúcha, conta a história de Marta, moradora da pequena comunidade Cristo Salvador de Barros Pimentel. Adélio, o pai de Marta, era o sineiro da Igreja Luterana Cristo Salvador (foto). “Ele subia no campanário e badalava o sino nove vezes para comunicar que alguém partiu”, escreveu Márcia.

Quando a enchente começou, Dona Emilda se encontrava internada num hospital de Caxias do Sul. Diz o texto: “Na mesma noite em que a ponte do Rio Caí – a única que dava acesso à igreja da comunidade onde Emilda vivia – caiu, a mãe de Marta faleceu”. E como sem a ponte não tinha como chegar até a igreja para que a morte de dona Emilda fosse anunciada pelas badaladas do sino – o que seu pai fazia enquanto era vivo – Marta deu seu jeito.

Ela ligou para uma tia que mora em Nova Petrópolis e pediu a ela que transmitisse pelo celular o toque dos sinos da igreja da cidade para a mãe. E assim foi feito: dona Emilda entrou no cemitério de Cristo Salvador de Barros Pimentel ao som dos sinos que badalavam no aparelho celular da filha do sineiro, anunciando que sua alma se elevara ao céu.