A CEIA OLÍMPICA: Maurício Rosa

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Tem se falado mais da cerimônia de abertura dos jogos olímpicos do que sobre o desempenho dos atletas. É verdade que, numa sociedade mundial polarizada, que promete banho de sangue, e atira em candidato à presidência, as opiniões ficam intensas. E quando trata-se de religião, o assunto fica ainda mais debatido.

Observei, nos últimos dias, uma gama de compartilhamentos de católicos, evangélicos, cristãos e até, não sei o porquê, ateus, discutindo sobre uma suposta representação da Santa Ceia. Que, para quem não sabe, foi a última refeição de Jesus Cristo antes de passar pelo processo de crucificação.

Vale ressaltar alguns detalhes:

1- Durante a Santa Ceia, não se podia comer ou beber nada fermentado, ou seja, ninguém bebeu vinho. Foi suco das videiras que o próprio Jesus colheu com os apóstolos para o ritual.

2- O formato da mesa não é o representado na obra de Leonardo Da Vinci. A posição era em forma de “U”, onde Jesus liderava a hierarquia e ao seu lado ficavam os seus mais amados. Sim, Jesus tinha seus preferidos e, lendo a Bíblia, você descobre os motivos. O único que ele deixou distante foi Pedro, pois este era de “pavio curto”, mas tinha uma grande missão pela frente. Logo, sua posição não significava nada em relação ao que lhe tinha reservado.

3- Na pintura de Da Vinci, Judas Iscariotes possui fisionomia diferente dos demais, é o único que bebe leite, vira sal em prelúdio ao seu papel na história – todo mundo sabe que virar sal significa azar – e toca na mesma tigela de Jesus, mostrando a ligação extrema e sentimental que ambos têm.

Além disso, ainda na pintura do artista italiano, existe um grande enigma de que a imagem da pessoa à direita de Jesus não seria de João, mas Maria Madalena. Segundo estudiosos é uma provocação do pintor.

O espaço que forma entre a suposta figura feminina, forma um triângulo que representa a Santíssima Trindade. O formato como os apóstolos são representados 33133, refere-se a uma citação bíblica encontrada no Livro das Lamentações.

“Porque o Senhor não desprezará para sempre. Embora traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível”.

4 – Aos que não sabem, Leonardo da Vinci era homossexual e teve, durante a sua vida, muitas brigas com a igreja católica por causa de seu trabalho, que sempre deixava sinais de sua orientação sexual.

— Maurício, por que tudo isso para falar sobre a cena?

— Porque há incongruências. Muitas. Entre a obra e o fato.

Ninguém quis ofender ninguém. As pessoas se basearam na obra de um artista, que não demonstra o verdadeiro ritual, para gerar uma polêmica completamente desnecessária. A encenação também não tem ligação alguma com o quadro de Dionísio, segundo especialistas.

Dionísio era uma figura mitológica e quando falamos mito, sabemos que não se trata da realidade, mas sim da maneira como as pessoas tentam explicar a natureza das coisas usando símbolos, muitas vezes, imagéticos. Um mito é uma mentira tão bem contada que transcende milênios.

O responsável pela cerimônia disse que representou uma festa de Dionísio, deus do vinho, festas e alegria.

Mas como eu disse acima, durante a Santa Ceia, não se bebeu vinho.

Sou cristão, apaixonado e muito influenciado pelos ensinamentos de Cristo, mas é preciso pesquisar a alegoria das coisas. Muita gente ofendeu os religiosos cobrando deles sabedoria, mas ofereceu uma postagem feita por alguém que sabia muito menos. Assim como religiosos que ficaram ofendidos sem saber a fundamentação correta.

A gente sabe o que incomodou as pessoas, foi o modo como os atores estavam vestidos, e isso é um assunto longo que jamais terá fim. Não entrarei nisso.

Portanto, se você não aceita a forma como eles estavam vestidos, tudo bem. Sua opinião tem todo meu respeito. Se você defende, também tem o meu respeito. O que não houve na representação foi ofensa alguma, principalmente porque, como já citei, os elementos não se encaixam para isso.

E se, por algum motivo, o responsável por tudo isso tentou usar o quadro de Da Vinci, elaborado em 1495, que encontra-se hoje em Milão, Itália, para causar polêmica e não quis assumir, ele foi muito infeliz.

Jesus não foi um ser mitológico, na Santa Ceia Jesus não bebeu vinho e nem formou a mesa da sua última refeição daquela forma, reitero.

Não se preocupe amigo cristão, católico, evangélico e demais, aquilo não representa nada.

Amigos homofóbicos, cuidado com os comentários. É crime. Ateus, não entendi vocês. Radicais, há um calmante para esse sentimento de raiva: conhecimento.

O que me preocupa nisso tudo é o preconceito. Não adianta você dizer: “nada contra, eu respeito”. Se na hora que o rebanho se junta com opinião contrária, você não tem coragem de manter sua palavra.

Seja qual tenha sido a intenção do responsável, ele poderia ter sido mais claro e estudado um pouco mais a Bíblia. Por outro lado, é bom saber que as lutas não podem cessar e que é sempre tempo de buscar sabedoria.

A Santa Ceia não é o que Da Vinci desenhou, Dionísio nunca existiu, mas a sua preocupação com o figurino sim.

Em Eclesiastes lemos várias vezes: “há lugar para todos nós debaixo do sol”. E se Jesus perdoou Zaqueu (Lucas 19. 1-10) quem somos nós para julgar uma roupa.

“Se você for sábio, o benefício será seu”. Provérbios 9:12

Espero ter ajudado. Não frequento igrejas, mas “devoro” a Bíblia e tudo que diz respeito as escrituras. E uma das coisas que aprendo muito nas leituras é ser justo. Eu não coloco orgulho e preconceito na frente da sabedoria, caso contrário, qual sentido de ser crente?

“O justo viverá pela fé”. Rm 1:17. E quem tem fé é sábio.

A arte tem seus dilemas, licença poética, mas a sua fé precisa estar intacta, caso contrário você se perde nesse mundo que, há séculos, vem deixando nossas emoções cada vez mais confusas.

Obrigado pela leitura.