A sociedade do cansaço: burnout e a crise do 6×1 – Francisco Melgareco

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O burnout é uma síndrome decorrente do estresse crônico e esgotamento extremo relacionado ao trabalho, caracterizada por exaustão emocional, sensação de improdutividade e despersonalização (distanciamento emocional em relação às atividades ou pessoas). Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, essa condição pode afetar seriamente a saúde mental, o desempenho profissional e a qualidade de vida. Segundo a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse, cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com o problema.

 

De acordo com a OMS, o Brasil é o segundo país com maior incidência de transtornos relacionados ao estresse no ambiente de trabalho. Desde 2020, houve um aumento significativo nos afastamentos relacionados a transtornos mentais e emocionais. Esse cenário é agravado pela cultura de trabalho intensa, pela falta de políticas efetivas de prevenção e cuidado com a saúde mental dos trabalhadores, ambientes de trabalho tóxicos, jornadas exaustivas e formas de gestão e liderança ultrapassadas.

 

Um levantamento realizado pelo portal Valor Econômico, que entrevistou mais de 3 mil profissionais de áreas diversas, revelou que 81% deles sentem-se esgotados ao final do dia. O problema é ainda mais crítico nos grandes centros urbanos, onde muitos trabalhadores enfrentam deslocamentos de até três horas ou mais para chegar ao trabalho, agravando o cansaço físico e mental. Diversos estudos recentes apontam que longas jornadas de trabalho podem reduzir significativamente a produtividade. Por outro lado, proporcionar maior descanso e bem-estar aos trabalhadores pode aumentar a eficiência, reduzir custos com afastamentos e melhorar o desempenho geral.

 

Diante desse cenário, observa-se uma alta rotatividade e escassez de mão de obra, assim como movimentos cada vez mais intensos em busca de condições de trabalho mais equilibradas, onde a vida pessoal e o bem-estar dos trabalhadores também sejam considerados. Propostas como a redução da carga horária de trabalho e o fim da “escala 6×1” vêm ganhando força, trazendo à tona a relevância de se discutir soluções que promovam saúde e qualidade de vida no ambiente profissional.

 

Reduzir a carga horária de trabalho é, sem dúvida, uma medida eficaz para amenizar o problema e proporcionar o equilíbrio tão necessário às pessoas. Contudo, muitas questões ainda precisam ser resolvidas para que essa mudança seja viável. Entre elas, destacam-se dúvidas sobre como reduzir a carga horária sem diminuir salários, quais seriam as contrapartidas para as empresas e se esse custo adicional poderia levar ao aumento de preços e à inflação. Embora ainda seja cedo para conclusões definitivas, o debate já sinaliza uma crescente conscientização sobre o impacto desse problema na vida das pessoas e nas organizações.

 

As pessoas estão cansadas. O burnout reflete fragilidades estruturais no trabalho, que precisa urgentemente se adaptar às demandas humanas por equilíbrio e saúde mental, trazer sentido, significado e propósito. Iniciativas voltadas para jornadas mais adequadas e políticas de bem-estar não apenas beneficiam os indivíduos, mas também contribuem para um ambiente profissional mais produtivo e sustentável. Reconhecer a gravidade do problema é o primeiro passo para promover mudanças que favoreçam tanto os trabalhadores quanto as empresas.