O Que o Pai Planta, Gerações Colhem- Sérgio da Silva Almeida- Crônica

Estava colhendo limões com meu pai, José Benemídio Almeida, de 87 anos, na Cabanha Quinheca, no Irapuá — lugar onde cresci. Aquela tarde, embalada pelo aroma cítrico dos frutos e pela brisa suave do outono, transformou-se em um momento de rara beleza e significado.
Entre um galho e outro, fui tomado pela lembrança de que aquele pomar havia sido plantado por ele em 1969, quando eu tinha apenas três anos de idade. Árvores que, ao longo das décadas, fincaram raízes não apenas no solo, mas na história da nossa família.
Enquanto colhíamos os frutos, pensei: um dia, quando meu pai fizer sua travessia para a casa eterna — e que esse dia demore a chegar —, e, mais adiante, quando também eu não estiver mais por aqui, caberá aos meus filhos, e talvez até aos meus netos, a doce missão de colher os limões e manter vivo o arvoredo que ele e minha mãe cultivaram com tanto zelo.
Enquanto observava meu pai colocar cuidadosamente os limões em uma sacola plástica, veio-me à mente uma velha história: a do homem que plantou uma jabuticabeira.
Contam que certo dia, um senhor já idoso cavava a terra com esmero, preparando o solo para uma pequena muda. Suas mãos, rugosas e firmes, traziam marcas de décadas de trabalho e esperança silenciosa. Um vizinho, intrigado, aproximou-se e perguntou:
— O senhor sabe que essa jabuticabeira leva cerca de 15 anos para dar frutos, não sabe? Com todo respeito… talvez o senhor nem esteja mais aqui para ver.
O idoso sorriu com serenidade e respondeu:
— Não, não creio que viva tanto tempo.
O vizinho insistiu:
— Então, qual é a vantagem disso?
E ele, sem pressa, disse:
— Nenhuma. Exceto o consolo de saber que ninguém colheria jabuticabas se todos pensassem como você.
A jabuticabeira daquele homem, assim como os limoeiros do meu pai, são mais do que árvores. São declarações silenciosas de amor ao futuro. São testemunhos de que vale a pena cuidar do que talvez nunca veremos florescer — porque o que o pai planta, gerações colhem.