Machismo estrutural, de quem é a culpa? Mauro Falcão- Crônica 

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A sociedade em que vivemos é fruto de uma longa construção histórica marcada pelo patriarcado. _*Desde tempos remotos, a força física legitimou a autoridade dos homens, criando estruturas de poder que persistem até hoje.*_ Embora as leis modernas coíbam agressões, a legislação não consegue regular desejos ou pensamentos – e, no íntimo, muitos ainda preservam comportamentos “selvagens”, mascarados pela aparência de civilidade.

 

Nesta semana, tivemos um _*exemplo alarmante no Parlamento*_ , que escancarou o quanto o machismo está enraizado nas instituições. Expressões como _*“ponha-se no seu lugar”,*_ dirigidas a uma Ministra durante um debate, revelam que a crença na superioridade masculina ainda tenta inferiorizar e silenciar as mulheres. Não se trata de um caso isolado — é sintoma de algo estrutural.

 

Porém, _*o problema não se resume aos homens machistas.*_ Nas redes sociais, inúmeras mulheres defenderam a agressão verbal proferida – justamente aquelas que deveriam se unir contra tal covardia, acabam, paradoxalmente, colaborando para _*perpetuá-la*_ . Essa adesão feminina à lógica patriarcal reforça o poder masculino, ao legitimar o injustificável com base na própria conivência.

 

Diante dessa reflexão, qual o impacto que figuras “dissidentes” causam no próprio movimento que deveriam fazer parte? A resposta é incômoda, mas necessária. _*O machismo está diretamente ligado ao poder de mando.*_ Quem o detém – ou almeja detê-lo – tende a preservá-lo, _*independentemente de gênero.*_ A alternância de papéis entre homens e mulheres não elimina vícios comportamentais, desde que esses vícios sirvam aos interesses de quem os pratica.

 

Podemos ir além: _*quando indivíduos historicamente marginalizados conseguem ascender da periferia ao centro do poder, será que olham para trás com a mesma empatia?*_ Ou será que seus valores se moldam ao novo patamar social, esquecendo a realidade que um dia foi a sua? O desejo de manter privilégios pode ser tão opressor quanto o desejo de conquistá-los.

Portanto, muitas vezes, _*o nosso maior adversário não está fora — está entre nós.*_ A disputa central não é sobre gênero, mas sobre a conquista e a manutenção do poder. Que possamos, como sociedade, transcender essas armadilhas e buscar um propósito maior: o bem comum. _*Que assim seja!*_

_*Mauro Falcão, escritor brasileiro*_