O Pequeno imposto que pode rachar a República. Por Mauro Falcão – Crônica.

O recente aumento do IOF reacendeu um debate que vai além da carga tributária: expõe a tensão crescente entre os Poderes da República e a transformação do orçamento em _*arma política.*_
O IOF é um imposto de arrecadação rápida e aplicação imediata, tradicionalmente usado para _*ajustes pontuais*_. Mas sua elevação, agora, sinaliza uma manobra mais ousada: o Executivo tenta abrir espaço fiscal sem negociar com o Congresso.
Ao aumentar um tributo que incide sobre crédito, financiamento e cartão, o governo transfere o custo à classe média (C e parte da B), enquanto os benefícios vão para os programas sociais da sua base eleitoral (D e E). A curto prazo, há alívio para os mais pobres; a médio e longo prazo, _*o risco pode ser oposto*_ — menos empregos e crescimento comercial e industrial travado.
É importante lembrar que, para os programas sociais representarem justiça e merecimento, dois princípios devem caminhar juntos: o da solidariedade – _*que acolhe*_, e o matemático – _*que sustenta*_. Um sistema que não equilibre generosidade com a sustentabilidade corre o _*risco de ruir*_ por excesso de intenção e escassez de cálculo.
Nos últimos anos, emendas parlamentares, sobretudo as de relator, tornaram-se _*moeda de troca*_. A liberação (ou bloqueio) desses recursos sustenta o jogo de _*barganha*_ entre Planalto e Congresso. _*Ambos lucram*_: o Executivo garante apoio, e os parlamentares abastecem suas bases.
Mas algo mudou. Pela primeira vez em décadas, _*o Congresso resistiu*_. Não por súbita preocupação com o povo, mas por cálculo político: _*2026 é ano eleitoral*_. Apoiar demais os programas do governo pode custar votos e mandatos.
Esse cabo de guerra tem consequências. Se o Executivo insiste em contornar o Legislativo, _*o conflito pode parar no STF*_, agravando ainda mais a crise institucional. O Congresso pode retaliar, _*limitando decisões judiciais*_. O governo, espremido, testa os limites da democracia — até que alguém _*perca o controle*_ – estaríamos, então, às vésperas de _*um novo 8 de janeiro*_, com nova roupagem e protagonistas diferentes?
No fundo, não se trata apenas de um imposto ou de emendas, mas da _*erosão da confiança institucional*_. Quando o orçamento vira moeda de troca, a política abandona o bem comum e se transforma em campo de batalha por interesses privados. E, nesse vácuo, _*prosperam o extremismo e os que desejam o colapso*_ — porque, onde as instituições falham, _*sobram apenas os tiranos e os ricos para ditar as regras*_.
A democracia exige equilíbrio. Esticar demais a corda não gera acordos — _*produz rupturas*_. E, quando ela arrebenta, é sempre o povo quem paga a conta.