Recordação escolar- Sérgio da Silva Almeida- Crônica

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Ainda em comemoração ao Dia do Estudante, na segunda-feira, dia 11, quero compartilhar uma recordação única da minha trajetória escolar que minha mãe, Amália Almeida, eternizou em um memorial na Cabanha Quinheca, no Irapuá, interior de Caçapava do Sul. Lá, entre as lembranças que ela reuniu do meu pai, dos meus irmãos e também das minhas, há uma carregada de afeto: uma moldura com minha foto posada aos 11 anos, tirada no meu primeiro ano no colégio, com o título “Recordação escolar”. Esse tipo de registro era muito comum entre as décadas de 1960 a 1990.
Hoje, o que mudou foi o formato: com a tecnologia, as fotos passaram a ser disponibilizadas digitalmente para compra.
Na imagem, estou vestido com o uniforme de mangas compridas azul-claro do Colégio Barão do Rio Branco, sentado na carteira e com os olhos fixos na lente da câmera.
Com um lápis na mão, faço de conta que escrevo numa folha, tendo ao fundo a imagem de um mapa-múndi. À minha direita, duas bandeirinhas: do Brasil e do Rio Grande do Sul. No rodapé, o nome do estúdio fotográfico itinerante Foto Arahy, de Porto Alegre, que montou um espaço de fotografia em uma sala improvisada para registrar cada aluno individualmente e oferecer as fotos aos pais.
Lembro bem daquele dia. Fui um dos últimos a ser fotografado — e quase não fiz o registro. O motivo? Meus pais não tinham dinheiro na hora para pagar pela recordação, porque haviam matriculado os três filhos.
Mas, no fim, como todo pai amoroso, encontraram uma forma para que nenhum de nós ficasse sem a recordação.
Quarenta e oito anos depois, ao contemplar aquele instante congelado no tempo chamado “Recordação escolar”, o olhar reflexivo do eu de hoje encontra o olhar ingênuo do eu menino — e percebo que, sem saber, naquele dia o fotógrafo capturava duas recordações: minha foto na quarta série do Barão e o esforço incansável dos meus pais para que eu pudesse ter acesso a uma educação de qualidade.