Você conhece os amigos corredores de São Sepé? ACORRESS- Por Maurício Rosa

Corrida de rua, essa modalidade do atletismo tem se tornado cada vez mais popular nos últimos anos. A pandemia trouxe uma necessidade de cuidado muito intensa. Quem não corre, dirige seu foco à academia ou em outras atividades que equilibram mente e corpo.
Recementente, um rapaz, no nordeste, completou uma prova de 8km estando ainda alcoolizado e a Internet romantizou isso.
Vocês têm noção do risco de vida que esse homem correu?
Antes dos relógios e dos super tênis, já tinha gente correndo cuidando o Sol. Isso não é novo, caso não saiba.
“A hora que começar a anoitecer, volto para casa”.
Não faço uma crítica isolada, sabemos qual é o esporte mais popular no Brasil, mas aqui em São Sepé, existe gente trazendo muito mais resultado e carregando o nome da cidade por aí. Na raça, treinando após o horário de trabalho, dividindo pista com pessoas que caminham (problema nenhum). Correndo no frio, na chuva e no calor de quarenta graus.
O que quero dizer é que há muito amor envolvido em algo que, infelizmente, está passando em branco. Desde crianças somos doutrinados ao futebol, mas se vocês soubessem o número de pessoas que prefere o atletismo, com certeza eu não estaria escrevendo aqui.
Porque eu sempre amei esse esporte.
Fui, por um ano, atleta da UFSM nos 1500m, depois tive que focar nos estudos porque o Brasil até quer gente correndo, atrás de uma bola, apenas.
Em São Sepé, existe o grupo: Amigos Corredores de São Sepé (ACORRESS). Criado em 17/11/2018 pelos amigos: Gilvan, Jaques, Tiago, Adriano, Edilberto, Matheus e Maicon. Com o tempo, mulheres integraram o grupo e hoje também representam a cidade de forma intensa e com muitos resultados, tal qual os homens. É amigos, a mulherada deixa muito homem pra trás.
Que orgulho de todos!
Esse grupo de pessoas têm um museu de conquistas pessoais. Inúmeras medalhas, troféus, recordes, reconhecimento estadual e muita bagagem para auxiliar quem deseja começar a praticar a corrida. Muitas pessoas de cidades vizinhas sabem do grupo e respeitam porque os resultados falam muito alto.
Infelizmente, esses muitos atletas viajam, na maioria das vezes, por conta própria e ainda assim usando o uniforme da ACORRESS dizendo com orgulho que são sepeenses.
Afinal, a corrida trabalha paciência, resiliência, força, autoconhecimento, limites e o principal: respeito. Não importa como chegam pra correr, eles só querem correr. Não importa se você correu 5km em 40min ou 20min, você correu 5km.
É um amor genuíno pelo esporte. Que eu observo, diariamente, na pista do PAMADE.
Uma dedicação máxima e exemplar.
É muito gratificante saber que existe um grupo de corredores que faz muito, mas muito pelo esporte na cidade. E isso precisa ser mais valorizado.
Porque a ACORRESS é um grupo que organiza as próprias ações para realizar eventos de aniversário, por exemplo. Que não é chamado para reuniões de planejamento, sendo que passa o ano todo participando de eventos. Há anos, a ACORRESS corre “só”.
Recentemente, alguns atletas angariaram pódio na Meia Maratona dos Pampas. Em junho, tiveram resultados incríveis na Meia de Porto Alegre, sem falar da Travessia Torres Tramandaí, no início do ano. Em breve Santa Maria e todas as conquistas nos eventos do SESC e demais localidades.
ACORRESS é uma referência. Dificilmente um atleta volta pra casa sem sua medalha ou troféu.
Vamos olhar com mais carinho para o grupo. O mesmo possui uma diretoria e formas de contatar. Procure a rede social no Instagram, os responsáveis são bem acessíveis.
Esporte e cultura são essenciais para o desenvolvimento de qualquer cidade.
Isso não é uma crítica às autoridades, mas um convite para um debate onde todo mundo sai ganhando.
Sem saúde mental, ficamos alienados. E isso é perigoso demais, tira nossa liberdade de expressão.
Passei muito perrengue como escritor, então eu sei como é, mas esta resiliência é valorosa.
A galera da ACORRESS não corre só por resultados, há muitas histórias de vida que se amenizam na pista. E quanta gente não passa por isso?
Correr auxilia na ansiedade, depressão, obesidade e muitos outros transtornos. Não é só sobre “pace”. É saúde! Eu mesmo, corro devido ao TEPT pelo qual passei há alguns anos e que até hoje “me da oi”.
Ideias: planejar mais rústicas, eventos na pista, patrocinar os atletas, pelo menos com alimentação e mobilidade.
O esporte não pode ficar isolado em torno de um objeto esférico.
Minha ex-professora educadora física e grande amiga, Lenise Lima, apresentou-me alguns projetos que acontecem em cidades vizinhas e que valeriam uma conversa.
Em Porto Alegre, Santa Maria e outras cidades, existem eventos que ocorrem mensal ou semanalmente: ritmo livre, trajeto variado e todo mundo correndo em suas condições. Sem pressa, apenas praticando o bom do exercício físico, equilibrando-o com saúde mental. É definido um trajeto e todo mundo corre no seu tempo e todo mundo ganha. O objetivo é movimento.
Mas por quê?
Muita gente quer sair de casa pra dar uma volta, mas se sente melhor com mais pessoas. Criar um plano de inclusão seria muito bem-vindo. Repito: muita gente quer correr, mas a timidez impede. Com o tempo a solitude vira companhia, ainda mais em trajetos maiores, mas isso não é um processo trivial.
Se quiserem falar sobre isso, a galera da ACORRESS têm muito papo para orientar.
Tem gente no inverno, correndo bem próximo do ginásio usando touca, luvas, e protetor facial de pano. E no verão fritando feito ovo. Tudo pela saúde mental, primeiramente.
Não espere São Sepé viralizar na Internet porque alguém resolveu correr bêbado, dando uma completa falta de importância a todos que se dedicam a melhorar de vida e o mais importante: inspirar mudança nas outras pessoas.
Obrigado pela leitura!
