“Catadores de milho” Sérgio da Silva Almeida

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Dia 24 foi o Dia do Datilógrafo (será que ainda existe algum por aí?). Antes da popularização dos computadores, datilografia era um requisito básico para se entrar no mercado de trabalho. Com esse propósito eu fiz curso na década de 1980 – se você pertence à geração “enta” (a dos com mais de 40 anos de idade) há chance de ter feito o mesmo! Graças a ele consegui meu primeiro emprego num escritório de advocacia. E fazia petições jurídicas na máquina de escrever.

 

Era preciso retornar o carro da máquina e trocar o papel. E lembro de levar o documento à mesa dos advogados, e ficar com o coração na mão ao vê-los fazer a revisão para ver se continha erros ortográficos ou mesmo de uma simples vírgula, pois por se tratar de um pedido por escrito, onde a pessoa apresenta sua causa perante à Justiça, não era possível corrigi-los com corretivos. E bastava um mínimo erro para eu jogar a folha fora e refazer o documento.

Hoje vejo os jovens usarem apenas os dois dedos indicadores para digitar no teclado do computador – e os dois polegares para interagir no celular –, diferentemente de mim que coloco oito dedos na fileira central do notebook (como estou fazendo agora para escrever esse texto). Além disso, ao usar a máquina de escrever, ao contrário do digitador que tecla com o punho apoiado na mesa e sem mexer os braços, o datilógrafo mantinha a mão levantada, usando o movimento dos braços e o peso da própria mão para ajudar a apertar as teclas.

 

E era preciso destreza. Por isso, durante o curso, o aluno datilografava sem olhar para o teclado ou até, em alguns casos, de olhos vendados. E havia um termo para quem procurava, com os olhos, as teclas a serem pressionadas e as batia com os dedos indicadores: “catador de milho”.

Meu filho José Henrique, de 16 anos, ficou espantado ao me ver “datilografando” no computador pela primeira vez e perguntou, intrigado: “Pai, como você consegue digitar rápido e sem olhar para o teclado?”. Eu respondi, me achando: “Eu fiz datilografia, filho, não ‘cato milho’ nas teclas”.