Foi no 17 de julho: Por Sérgio da Silva Almeida
Há dias que marcam a alma. E o 17 de julho de 1987 foi um deles. Vou contar. Aos meus 21 anos de idade, eu coloquei as chuteiras na bag e fui atrás do meu sonho mais louco: me apresentar ao técnico Vanderlei Eustáquio de Oliveira, o Palhinha, no Atlético Mineiro, em Belo Horizonte (MG).
Peguei o Unesul em Cachoeira do Sul para Porto Alegre e depois para São Paulo, o Penha. Ao chegar ao Terminal Rodoviário do Tietê, solicitei à atendente a passagem para a capital mineira, e ela me explicou: “Devido ao feriadão, só tem para amanhã”.
Tentei argumentar, com o coração na mão: “A senhora não entendeu. Eu sou do Sul e não tenho onde ficar”. Ela foi seca: “Desculpe, não sei como ajudá-lo”. E “tirando o corpo fora”, se virou para atender o “próximo”.
Aquele foi um dos momentos em que a vida me ensinou o significado da expressão “cada um por si – e cada um fingindo que é por todos”.
Foi aí que, enquanto imaginava como seria passar a noite deitado em um dos bancos daquela rodoviária, com um olho fechado e outro aberto, escutei uma voz em meio à multidão: “Passagem para Sete Lagoas, Minas Gerais”.
Voltei o olhar para o lado de onde a voz nascia e vi um homem com o braço direito erguido, segurando um ticket o mais alto que podia. Corri até ele e perguntei: “O senhor falou Minas Gerais?”. “Sim, comprei para Sete Lagoas, mas não vou mais viajar”, respondeu, atenciosamente.
“Essa cidade é muito longe de BH?”, voltei a perguntar. Ele explicou: “Hoje é seu dia de sorte. Esse ônibus passará pela garagem da Gontijo, na capital”. Aquelas palavras soaram como música para meus ouvidos, e garanti, já metendo a mão no bolso: “Eu quero comprá-la!”. Ele explicou: “Você terá que pagar até Sete Lagoas”. Eu respirei fundo e, de pronto, concordei: “Eu pago para oito lagoas, nove lagoas… desde que possa chegar ao meu destino”. Foi assim que, há 36 anos, no dia 17 de julho de 1987, eu me apresentei ao presidente do Galo, Nelson Campos, e ao técnico Palhinha, na Vila Olímpica.
Com essa história, segunda-feira, finalizei emocionado um evento in company para empreendedores da Eko’7, na cidade mineira de Uberlândia. E logo em seguida, fiquei sem palavras ao saber da notícia sobre o falecimento do técnico Vanderlei Eustáquio de Oliveira, o Palhinha, aos 73 anos, horas antes… no dia 17 de julho.