A Capela Nossa Senhora da Conceição. A Igreja Matriz Nossa Senhora das Mercês

0
790

Em razão das pesquisas que tenho realizado, o município de Restinga Seca poderia ter sua sede administrativa no atual povoado de Jacuí, havia a estação, as duas pontes (a Ponte do Império e a ponte férrea) e, claro, um rio – que poderia ser navegável, facilitando o comércio, inclusive com a capital – acrescente-se que, durante vários anos no século XX, Jacuí sediou as oficinas da viação férrea. Em outro ponto do município, havia o 4º Distrito, São Miguel, cuja condição político-administrativa lhe dava precedência desde 1892.

Quis o destino, contudo, que a existência de um córrego (sanga) determinasse à companhia belga que construiu a ferrovia Porto Alegre-Uruguaiana erigir uma caixa d’água para o abastecimento dos trens, no que se constituiu a sede atual do município. Depois da caixa d’água veio a estação ferroviária, o povoado cresceu e Restinga estabeleceu-se.

São Sepé, por sua vez, tem a sua origem na fé: a promessa de construção de uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, que foi feita por um grupo de moradores do antigo povoado de São João (antiga identificação de São Sepé), cuja liderança coube ao carpinteiro Francisco Antônio de Vargas. A sua proposição era uma capela que permitisse o encontro dos fiéis da região, mas também fosse um local de encontro para a comunidade. Nascia, assim, a “Capela”, gênese da cidade de São Sepé.

Em maio de 1829, foi autorizada a criação da Capela Nossa Senhora da Conceição – o que nos chama a atenção é que o território de São Sepé abrangia o atual município de Formigueiro, que se emancipou em 1963. Sabemos que, em Formigueiro, desde 1750, registra-se a existência da Fazenda São João, um aldeamento de indígenas catequizados por jesuítas, e isso, por si só, me faz sempre ter em mente que, antes da presença oficial do homem branco, havia indígenas, havia posseiros – de identidade indefinida – na nossa região e que foram invisibilizados pela História oficial, concedendo-se primazia aos sesmeiros.

Em 15 de fevereiro de 1830, dando prosseguimento ao processo de construção da capela, uma carreta partiu de Formigueiro transportando uma cruz de madeira de ipê. Acompanharam-na 40 trabalhadores, montados em seus cavalos, que, depois da cansativa viagem, afixaram a cruz em ato solene. Cumpre ressalvar que fazendeiros e autoridades não gostaram daquele plano e chegaram a representar junto ao presidente da Província do Rio Grande São Pedro, demonstrando a sua insatisfação, do que consideravam uma invasão da propriedade da família Fraga, onde foram erguidas a cruz e a capela.

Para resolver a questão, Plácido Nunes de Melo, o Chiquiti, e Plácido Gonçalves Dias foram fundamentais. Plácido Chiquiti convenceu os proprietários da terra a venderem o local para Plácido Gonçalves Dias, que, juntamente com sua mulher, Maria Joaquina de Lima, doaram-no para a construção da capela. Além disso, o casal fez a doação de mais terrenos para que se erigisse a estrutura básica para a povoação, que cresceu rapidamente, sob as bençãos de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da capela, conforme a carta que autorizou a sua criação.

Errei? Não! Há duas explicações possíveis para que, na contemporaneidade, a Igreja Matriz seja denominada Nossa Senhora das Mercês. Em uma carta escrita por Francisco Antônio de Vargas, o idealizador da capela, dirigida a um militar, ele mesmo escreveu: “Nossa Senhora das Mercês”, de modo que é possível que os próprios criadores da capela tenham decidido a mudança de seu nome. Outra possibilidade levantada por estudiosos da História sepeense é que, quando o novo prédio foi construído, a consagração tenha sido alterada.

Um dos pontos sempre relevantes a destacar em relação à História oficial de São Sepé diz respeito à rapidez de seu crescimento. Em 7 de dezembro de 1850, portanto, 20 anos depois da construção da capela, o povoado tornou-se Freguesia de São Sepé, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição e, 26 anos mais tarde, em 29 de abril de 1876, a Lei Provincial nº 1029 criava o município de São Sepé – o território estivera subordinado a Rio Pardo, depois, Cachoeira do Sul e ainda Caçapava do Sul, tendo herdado territórios dos dois últimos- Elaine dos Santos Professora.