A ira do Ira! Sérgio da Silva Almeida- Crônica

0
530

A banda Ira!, ícone do rock nacional e trilha da minha juventude nos anos 1980, frustrou parte das comemorações dos meus 59 anos, que serão celebrados em 4 de maio.

A decepção veio após um show em Contagem (MG), no dia 29 de março, quando o vocalista Nasi, em um momento de forte teor político, gritou “Sem anistia!” — e foi vaiado por parte do público.

Fazendo jus ao nome da banda, a resposta do cantor aos protestos foi incisiva: “Por favor, vão embora! Vão embora da nossa vida e não apareçam mais em shows, não comprem nossos discos, não apareçam mais.”

A repercussão nas redes sociais foi imediata — e majoritariamente negativa. Em meio ao desgaste público e à pressão crescente, a produtora 3M Entretenimento anunciou o cancelamento do show em Caxias do Sul, além de outras três cidades da região Sul. Em nota oficial, justificou: “Recebemos inúmeros pedidos de cancelamento dos ingressos adquiridos, desistência de patrocinadores e o risco claro de não progressão das vendas até as datas dos shows.”

Para mim, que havia incluído essa apresentação como um dos momentos especiais da comemoração do meu aniversário, a notícia teve um sabor amargo. A noite de 2 de maio, que prometia ser carregada de boas lembranças, de reencontro com minha história e com canções que marcaram minha formação afetiva — como “Flores em Você”, “Envelheço na Cidade” e “Eu Quero Sempre Mais” — simplesmente se desfez. Restou apenas a frustração de não ver ao vivo, décadas depois, a banda que embalou tantos momentos da minha vida.

Curiosamente, os gritos de ira do vocalista contrastam com a essência das músicas que, um dia, nos uniram. Em “Flores em Você”, ele canta: “Eu sou eu, você é você / Isso é o que mais me agrada.” Em “Eu Quero Sempre Mais”, a realidade se impõe com amarga sinceridade: “Mas a realidade que vem depois / Não é bem aquela que planejei!” E em “Envelheço na Cidade”, juventude e tempo se entrelaçam numa reflexão melancólica: “Juventude se abraça / Faz de tudo pra esquecer / Um feliz aniversário / Para mim ou pra você.”

O show não vai mais acontecer — e, mesmo que ocorresse, minha decisão já estava tomada: eu não iria. Ainda assim, como diz a canção, será um feliz aniversário para mim… sem o Ira!