A missão de Arlanda Streck- Sérgio da Silva Almeida- Crônica

0
125

Eu nunca soube o que a professora Arlanda Streck sentiu ao ver aquele guri tímido, envergonhado, recém-chegado do interior, filho de um pai mecânico e uma mãe comerciante, que trocou o “tapa-pó” branco de uma classe multisseriada pelo uniforme azul e branco de um colégio na cidade. O que terá passado pelo coração dela ao ver aquele garoto entrar, pela primeira vez, na sala de aula da quarta série, usando conga azul?

Também nunca soube o que a professora Arlanda Streck sentiu ao receber, 41 anos depois, os livros O Esquisito da Praça da Caixa D’Água e O Homem que Plantou Árvores (foto), entregues pelas mãos do próprio autor que, outrora, tinha dificuldades de aprendizado e passava longe das notas altas – agora patrono da Feira do Livro de Cachoeira do Sul. O que terá passado pelo coração dela ao ver o ex-aluno entrar, pela primeira vez, em sua casa, carregando gratidão por tudo o que ela fez por ele?

E, por fim, eu nunca soube – e nunca saberei – o que a professora Arlanda Streck sentia ao observar diariamente aquele aluno cuja inibição o impedia de participar oralmente das aulas. O que será que passou pelo coração dela ao nunca vê-lo levantar a mão para fazer ou responder uma pergunta, por se sentir “um peixe fora d’água” entre os colegas?

Na segunda-feira, enquanto dirigia rumo a Soledade para uma palestra na Associação Comercial, Industrial e Serviços de Soledade (ACIS), fui surpreendido por uma mensagem no WhatsApp enviada por minha tia Madalena Ventura. Ela me mostrava o banner da funerária, com a notícia do falecimento daquela que foi meu porto seguro no colégio e que me fez acreditar que minha vida poderia contradizer meu boletim. “Cumpriu sua missão, com louvor”, escreveu minha tia.

Chorei por alguns quilômetros, pois, embora nunca tenha sabido como ela se sentia, sei muito bem o que senti: “Eu fui a missão da professora Arlanda Streck.”