A TV que virou sala de aula- Sérgio da Silva Almeida- Crônica 

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No sábado, ao assistir à semifinal do Gauchão, notei que Juventude e Grêmio vestiam camisas listradas. O alviverde caxiense exibia sua tradicional combinação de verde e branco, enquanto o imortal tricolor da capital ostentava o clássico azul, branco e preto.

A cena imediatamente me transportou à infância no Irapuá, interior de Caçapava do Sul, diante da TV preto e branco dos meus pais. Na imagem que guardo na memória, meu pai, José Benemídio, aparece ao lado do aparelho que minha mãe, Amália Almeida, ainda preserva com carinho no espaço Memória da Família, na Cabanha Quinheca.

Era uma época de tecnologia rudimentar, sem a nitidez e as cores vibrantes das telas atuais. Com as imagens em preto e branco, as transmissões esportivas seguiam uma regra essencial: os times não podiam usar uniformes de tons semelhantes. Para garantir a identificação dos jogadores em campo, uma equipe vestia camisas claras, enquanto a outra adotava um modelo listrado ou escuro.

 

Anos depois, descobri uma história que deu ainda mais significado àquele tempo. No início dos anos 1970, meu pai ganhou uma TV preto e branco em uma rifa, durante um baile de campanha. No entanto, em um gesto de generosidade e desprendimento, decidiu não ficar com o prêmio. Optou por doá-lo para ajudar na construção de uma sala de aula no Colégio Alcides Maya, no Irapuá. Foi nesse espaço que meu irmão Enaldo, minha irmã Jane e eu demos os primeiros passos na escolarização.

 

Algum tempo depois, meu pai adquiriu a TV que aparece na foto. Alimentada por um gerador a diesel, proporcionava algumas horas de entretenimento à noite, até que, às 22h, a máquina era desligada para economizar combustível e garantir o descanso de todos. A TV preto e branco ficou no passado, mas aquela que nunca entrou em nossa casa se tornou algo muito maior: a sala de aula onde centenas de jovens da zona rural iniciaram sua jornada na educação.