“Apostas online: Bets, a nova pandemia.” – Francisco Melgareco

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Entre janeiro e julho de 2024, 25 milhões de brasileiros começaram a apostar em plataformas online, segundo levantamento do Instituto Locomotiva. Para contextualizar, o coronavírus levou um ano para infectar o mesmo número de pessoas. Atualmente, mais de 50 milhões de brasileiros participam dessas plataformas, e os reflexos dessa atividade na economia e na saúde pública começam a gerar preocupações.

Nos primeiros meses de 2024, dados recentes trazidos pelo Instituto Locomotiva mostram que os brasileiros gastaram cerca de 24 bilhões de reais em apostas online. Para agravar a situação, mais de 30% dos apostadores afirmam usar recursos destinados a necessidades básicas, enquanto 45% relataram prejuízos financeiros e endividamento.

A pesquisa do Instituto Locomotiva também revelou que 84% dos novos apostadores pertencem às classes C, D e E, o que destaca um problema crescente: o jogo tem atraído cada vez mais pessoas com menor poder aquisitivo. Em agosto, por exemplo, 3 bilhões de reais do Bolsa Família foram gastos em apostas online e jogos de azar em aplicativos, segundo dados do Banco Central.

O comércio já sente os impactos desse fenômeno. De acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), consumidores ativos em apostas esportivas online têm reduzido seus gastos em outras categorias, com dados alarmantes: 63% dos apostadores comprometeram sua renda, 23% deixaram de comprar roupas, 19% reduziram compras em supermercados e 11% cortaram despesas com medicamentos e produtos relacionados à saúde.

No campo da saúde, o cenário é ainda mais preocupante. Problemas como vício, destruição de relacionamentos, suicídios e diversos transtornos emocionais têm ganhado destaque recentemente. A doença do jogo, também conhecida como ludopatia ou transtorno do jogo compulsivo, é um transtorno mental causado pelo desenvolvimento da fissura, que é o desejo incontrolável de apostar. Nesse caso, a dependência não é de uma substância, mas da emoção intensa que as apostas provocam no cérebro.

A ludopatia afeta as mesmas áreas do cérebro que drogas como crack e cocaína, sequestrando o sistema de recompensa e causando dependência severa. Isso pode levar a efeitos graves, como estresse, ansiedade e depressão. Embora ainda não haja dados específicos sobre os custos que o sistema de saúde público enfrentará para tratar viciados em apostas, o impacto na saúde mental dos brasileiros já é evidente.

 

O impacto desse fenômeno ainda é incerto, mas há uma tendência clara de agravamento. O crescimento desenfreado desse mercado, aliado à falta de regulamentação e controle no Brasil, aumenta as preocupações. Para tornar o cenário ainda mais alarmante, o hábito de apostar online está crescendo rapidamente entre jovens e, mais recentemente, entre mulheres. É essencial conscientizar a sociedade sobre os riscos das apostas online, para evitar que uma diversão aparentemente inofensiva transforme-se em uma tragédia pessoal e social.