Benzedura de Barbeiro: José Epídio Santana
Um conto em versos)
Em memória do Pai
BENZEDURA DE BARBEIRO.
Um parente por pirraça
Deu endereço trocado,
Se fazendo de engraçado
Pra uma Dama, sem graça;
Assim, na manhã de um certo dia,
Uma fazendeira abastada
Foi a uma barbearia
Pedir ajuda, a coitada.
Aquele era o dia certo,
Hoje não perco vaza,
Pra ganhar daquele esperto,
Nado, voo e bato asa;
Entre, fale minha senhora,
Qual o mal que lhe aflige,
Meu santo nada lhe exige,
Manda enchente ou seca embora;
Quero ajuda pra já,
Minha donzela “tá esperando”,
O tempo está passando
Seu namorado sumiu de lá.
De improviso o barbeiro
Incorporou um benzedor,
Sem batuque, sem tambor,
Fez da oficina um terreiro
Kadrikadrá, Adivim, adivim já,
A donzela tá “esperando”,
O tempo está passando
E o moço sumiu de lá
Ei Pai xangô! Pai Oxum, Pai Oxalá!
O moço inda não voltô,
Mas, Preto Velho falô,
“Faço voltá pra casá”
Kadrikadrá, Adivim, adivim já
A donzela tá “esperando”,
O tempo está passando
Venha moço pra noivá
Um dia chegou linguiça
Morcela, leitão assado
E a fazendeira com a noticia
Que os noivos tinham casado
Por favor me diga moço,
Seu trabalho quanto é ¿
O que faz milagre é a fé,
Ocê evite alvoroço!
Assim falou o benzedeiro,
O santo nada lhe exige,
O problema já não lhe aflige,
Se precisar volte ao terreiro.
Venceu a esperança e a fé!
E a noiva veio ao terreiro,
Pra presentear o barbeiro,
Com vaca e bezerro ao pé.
O parente era seu primo,
Colega de profissão,
Pra quem meu pai levou um mimo,
Os torresmos do leitão.
Essa história é verdadeira
E, teve as bênçãos do divino,
Desfecho da brincadeira
Do Cirilo e do tio Mino.
José Epídio Santana
Membro da Academia de Artes e Letras Sepeense-ALAS