Clube Visconde do Rio Branco 80 anos: Elpídio Santana 

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Toda história tem um início. O Clube do Visconde, como costumamos chamar, tem uma história diferente, singular, e se for cultuada, cultivada, valorizada, não terá fim. 

Trago algumas reminiscências da Sociedade Recreativa Visconde do Rio Branco, uma entidade octogenária,  fundada em 23 de abril de 1943, em reunião realizada na residência do Sr. Orestes Pereira, com a presença de 29 sócios, onde hoje está localizada a Igreja Assembléia de Deus, tendo como finalidade a recreação, o lazer e a cultura da população negra que à época não tinha acesso a outros clubes sociais. O tenente Oscar Canteiros de Castilhos, responsável pela junta militar à época, deu grande contribuição nas questões burocráticas.  

A extinção do salão de propriedade do mestre Joaquim (militar e maestro da Banda Paz e Concórdia), onde eram promovidos os bailes e outros festejos, a exemplo da Festa de Nossa Sra. Do Rosário, fez com que a comunidade negra se unisse em torno da idéia da criação de outra entidade social.                            

As cores branca e azul celeste em sua Bandeira significa a busca da liberdade e da paz dos céus, tão sonhada pelos nossos antepassados.             

Em sua denominação homenageia José Maria da silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco, estadista, diplomata, militar, jornalista, primeiro ministro entre 1871/1875, quando lhe coube sancionar a Lei do Ventre Livre em 1871. 

Não é difícil, para quem conhece um pouco da nossa história e sabe das privações dos negros, compreender o significado e o valor de um clube social, sendo seus fundadores filhos e netos de escravos. , mormente, naquela época, havia apenas 55 anos da abolição,                         

A primeira diretoria da entidade tomou posse naquele mesmo dia, ou seja, em 23 de abril de 1943, tendo sido eleito  Presidente o Sr. Manoel Neves Fernandes da Silva e como Vice-presidente o Sr. Torquato Borba.                              

Em junho daquele mesmo ano a sociedade alugou um prédio de propriedade do Sr. Augusto Mori, situado à rua Visconde do Rio Branco, esquina com a Humaitá, onde desenvolveu suas atividades durante 24 anos.                    

No dia 7 de setembro de 1944 o clube teve sua primeira participação em eventos cívicos quando foi representado no desfile, pela Srta. Vilma de Assis Guedes empunhando a Bandeira Nacional recentemente adquirida. O Clube mantinha, à época, um grupo de atletas que representava a agremiação no recebimento e entrega do Fogo Simbólico aos municípios vizinhos por ocasião dos festejos da Semana da Pátria.                          

No dia 23 de setembro de 1944 foi realizado o primeiro baile, denominado o BAILE DA PARTIDA ,e no dia  31 de dezembro foi promovido o primeiro BAILE DE FIM DE ANO, com a escolha da rainha da entidade, tendo sido eleita a Srta. Lorena Costa e princesas as Srtas. Isaura Neves e Irma Martins.                            

Naqueles tempos o clube possuía uma cancha de bochas, sala para a mesa de ping pong, jogo de damas, bilhar e jogos de cartas; possuía, inclusive, um time de futebol de campo, cozinha e o salão onde se realizavam os bailes e festas. No ano de 1966, em seu recinto, foi fundada a primeira escola de samba de São Sepé “ Os Diabos do Céu”. Em 1968 foi lançada a Pedra Fundamental da construção do prédio em sede própria onde está localizado à rua independência 1169.                             

O Clube passou por sérios percalços, tendo permanecido sem atividades por longos oito anos, década entre 2000 a 2010.                             

Sabíamos que não seria fácil. Também sabíamos que não seria impossível reabrir uma entidade cujo legado orgulha a todos os que conhecem a sua história.                                    

A frustrada tentativa de fusão com o CTG Ronda Crioula não  desanimou seus diretores, alguns dos quais, fundadores daquele Centro,  antes pelo contrário,  os estimulou para fazer desse contrapasso uma oportunidade para seguir adiante.                              

Sabíamos das dificuldades para reabrir o Clube. Também sabíamos da importância de resgatar essa herança.                               

Nosso trabalho não foi, não é nem será em vão. 

Na condição de dirigente  da entidade, com o apoio de tantos, especialmente de nossos parceiros da Associação Vila Esperança, cumpro com a missão de liderar esse esforço para construir  um novo Visconde, em prédio modesto, é verdade,  mas, como nos velhos tempos, será um lugar para recreação, entretenimento e lazer , acima de tudo, um ponto de cultura e união entre os associados, frequentadores e simpatizantes.

Texto: José Elpídio Santana.