Da Maçã do Respeito à Mordida da Indiferença- Sérgio da Silva Almeida- Crônica

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No meu tempo de estudante, era comum os alunos presentearem suas professoras com maçãs. Um gesto simples, mas carregado de significado: respeito, admiração e gratidão pelo conhecimento compartilhado em sala de aula.

Lembro bem das manhãs em que, ao chegar à escola, eu tirava da mochila uma maçã brilhante e a colocava, meio sem jeito, sobre a mesa da professora. Ela sorria, pegava a fruta com delicadeza e dizia com carinho: “Obrigado, Serginho!” Naquele momento, eu não apenas caminhava até minha carteira—eu flutuava.

Mais do que um presente, essa tradição representava o valor que dávamos à educação e ao papel fundamental dos mestres em nossa vida. O professor era uma referência, um guia, e a escola, um ambiente seguro para aprender, crescer e sonhar.

Mas os tempos mudaram. E, junto com as transformações da sociedade, algumas cenas inimagináveis passaram a fazer parte da realidade escolar. Recentemente, em Caxias do Sul, um episódio chocante escancarou a violência dentro das salas de aula: uma professora foi esfaqueada por alunos. Um ato brutal que destoa completamente do respeito e carinho que, no passado, eram expressos por meio de uma simples maçã.

A história dessa professora ferida é um alerta para toda a sociedade. Precisamos resgatar os valores que nos formaram, reconstruir a ponte entre mestres e alunos e garantir que nossos professores possam exercer sua missão com dignidade, respeito e segurança.

Afinal, um professor não deveria entrar em sala de aula com medo. Deveria ser recebido com o mesmo brilho nos olhos de quem, um dia, entregou uma maçã como símbolo de reconhecimento.

Mas algo mudou. Hoje, em vez de oferecer aos professores uma maçã inteira, cheia de respeito e gratidão, a sociedade lhes entrega uma “maçã mordida” — um símbolo corrompido, um gesto distorcido. Os professores, que antes recebiam o fruto da admiração, agora colhem o desrespeito, como se sua importância tivesse sido mastigada e descartada por uma sociedade que esqueceu seu verdadeiro papel.

Morderam a maçã. E, com isso, morderam também o futuro.