De olho nas crianças: Sérgio da Silva Almeida
O portal Uol divulgou pesquisa apontando que 77% dos brasileiros preferem passar as férias na praia. E já que 867 crianças se perderam durante a Operação Verão de 2022/2023 nas praias gaúchas (em Santa Catarina foram 2.567), quero lembrar os pais que os cuidados com os filhos durante o veraneio devem ser constantes.
Em 1999, veraneamos na praia de Xangri-lá. E todos os dias pela manhã eu jogava bola num campinho de grama perto do mar. Foi aí que, numa dessas vezes, ao chegar ao campo, não sei o porquê (ou sei?) desisti de jogar, retornei para casa e encontrei minha esposa assustada: “Nosso filho sumiu!”. E nervosa, apontou para a grama: “O Sergi estava brincando ali e, de repente, desapareceu…”.
Procurei acalmá-la: “Vamos perguntar aos vizinhos, pode ser que alguém o tenha visto”. E assim fizemos, sem êxito. Depois, de carro, saímos pelas ruas aos gritos de “Sergiii!”, e nada do guri. Num momento de tensão, muitas coisas passam pela cabeça de um pai: ele foi sequestrado, foi para o mar sozinho e se afogou, se perdeu entre as pessoas no centro…
Após três horas de procura, sentamos em frente à casa e evitei olhar para a Marta para não cair no choro. Foi aí que, sentindo-me impotente, orei a Deus: “Jesus, o senhor sabe onde meu filho está…”. Sem saber o porquê (ou sei?), em meio à oração, levantei os olhos e algo me atraiu à casa no outro lado da rua. Dirigi-me a ela e toquei a campainha. Uma mulher abriu a porta e eu, calmamente, perguntei: “Senhora, eu estive há pouco procurando meu filho. Ele tem quatro anos, a senhora o viu?”. Ela sorriu, e respondeu: “Ah, desculpe, o senhor estava nervoso e eu não entendi sua pergunta. O menino está jogando videogame com meu filho atrás do sofá”.
Em soluços, fui até ele: “Venha meu filho”. “Pai, deixa eu brincar mais um pouco”, respondeu, sem tirar os olhos da tela da TV. “Já deu por hoje, Sergi, sua mãe está te procurando”. Ele levantou-se e nos dirigimos à saída. E quando colocamos os pés na calçada, a Marta, correndo, atravessou a rua e o abraçou tão forte que achei que o esmagaria.
Naquele dia aprendemos que, se há algo que pode acabar com as férias, com certeza, é perder o filho na praia. Por isso, tanto na areia como no mar, fique de olho nas crianças.