Dinheiro na calcinha: Maurício Rosa

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Lúcia, entra na recepção do escritório, suando muito. Então, pega uma garrafa de 1L de água e enche. Ela olha pra todos na sala, sobe na mesa de centro, enfia a mão dentro da bolsa e diz, calma:

– Hoje eu estou louca pra atirar em alguma coisa com minha arma nova.

Todo mundo sai correndo, inclusive, a recepcionista. Fica só ela, esperando. Rindo sozinha lendo uma revista antiga. A psiquiatra, Sandra, sai da sala e vê apenas Lúcia.

-Achei que tinha mais gente aqui.

-Eu não vi ninguém, cheguei e já estava vazio e sua secretária disse que já volta.

– Bom, então venha.

Lúcia entra, coloca a garrafa com água chão e deita do divã e veste um tapa olho, após o celular ser ajustado para despertar.

– O que a senhora está fazendo?

– Doutora, eu tenho doze filhos, trinta e oito netos, doze bisnetos e vem mais por aí.

– Mais o quê?

– Neto e bisneto. Filho não vem mais porque o Valdir, meu marido, é mais mole que sorvete fora do gelo e ainda bebe. Aliás, não é ele que bebe, são as garrafas que engolem Valdir. Então, só me deixa dormir um pouco. Coloquei o celular pra despertar, mas se não funcionar me chame.

– Tudo bem.

A doutora ficou na sala, lendo um livro e alguns prontuários. Faltando alguns minutos, após o tempo solicitado para o despertar, Lúcia acordou sonâmbula, subiu na mesa da doutora figindo dançar num pollydance invisível, completamente, nua, agradecendo pelas notas invisíveis anexadas na sua calcinha, até que, ao levantar um das pernas, caiu da mesa e se estatelou no chão. Despertando na realidade segundos depois.

Ela estava sonâmbula, olhou ao seu redor, observou-se nua e com vergonha. Catou as roupas e, sem falar nada, vestiu-se.

– A senhora está bem? Perguntou a psiquiatra.

– Sim. Foi um ótimo sono, mas o que aconteceu?

A médica contou tudo.

– Meu Deus, agora sei porquê minhas netas colocam as mesadas, nas calcinhas, as mesadas que ganham dos pais. Doutora, eu preciso ser internada, urgentemente. Estou sendo uma péssima influência.

– Calma, a gente vai tratar esse problema. Tem tudo ligação com seu estafante estilo de vida emocional. Enquanto isso, vamos com esse medicamento. E na próxima, já deixa uma musiquinha pronta para ficar mais “quente”. Brincadeira.

– Eu danço bem, doutora?

– Beyonce passa vergonha.

Tomem cuidado com a sobrecarga na sua vida. Seu fardo tem um limite de peso. Passou disso, a vida desequilibra e, consequentemente, tudo desmorona. Você não tem o controle de tudo e muitas coisas que ocorrem na vida alheia não são problema seu. Doa a quem doer.