Do Irapuá pode sair algo de bom? Sérgio da Silva Almeida

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Hoje é o Dia Mundial de Combate ao Bullying. A data tem o intuito de alertar sobre esse tipo de agressão e constrangimento que pode causar problemas psicoemocionais graves nas vítimas.

Certamente, todos nós, dentro dos muros da escola, conhecemos alguém que se achava o mais esperto, o mais bonito, o mais inteligente e que agia como se fosse “a última bolacha do pacote”. Alguém que se mostrava brigão, valentão, mas que no fundo não passava de um jovem que estava em sofrimento emocional e que, ao se recusar a enfrentar a própria realidade, zombava, ridicularizava, intimidava e até ameaçava os indefesos. Um carrasco de si mesmo em busca de popularidade ou afirmação de seu poder a qualquer custo.

Não se trata de mimimi, mas o Bullying deixou cicatrizes profundas em minha alma a tal ponto de eu adquirir uma identidade rotulada e apresentar dificuldades de interação social. Isso porque, quando saí do Irapuá, interior de Caçapava do Sul, e fui estudar em Cachoeira do Sul, agarrados a um sentimento sarcástico, alguns colegas costumavam zombar de minha aparência interiorana. Felizmente, quando me tornei adulto, uma frase me encheu de esperanças: “Quem cura as feridas não se chama tempo, se chama Jesus”. E, ao estudar a vida do peregrino de Nazaré, descobri que Jesus se identifica com a dor, tanto do agressor como da vítima, pois também sofreu Bullying. Marcos descreve: “Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça. E o saudavam, dizendo: ‘Salve, rei dos judeus!’ Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam”. E Lucas relata: “Os soldados também o escarneciam, chegando-se a ele, oferecendo-lhe vinagre e dizendo: ‘Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo'”.

Entretanto, foi quando li no Livro de João sobre o encontro entre Natanael e Jesus: “Filipe achou Natanael, e disse-lhe: ‘Encontramos Jesus, o filho de José, de Nazaré, aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, bem como os profetas’. Natanael perguntou: ‘De Nazaré pode sair algo de bom?’”, que decidi perdoar meus colegas e seguir em frente, pois pensei: “Então era isso o tempo todo?! Eles só queriam saber se do Irapuá poderia sair algo de bom”.