Está chegando o Dia dos Namorados- Mauricio Rosa

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(Já que estão todos relembrando o início da relação, que tal rever, também, como algumas acabam).

Ana Luíza, três horas da manhã, recebeu uma mensagem do seu ex-namorado, João. O telefone tocou ao lado da cama. Preocupada, ela assustou-se e se apressou para verificar o conteúdo escrito. Acendeu a luz do abajur, sentou apoiando-se no travesseiro, pôs os óculos e começou a leitura.

– Oi – disse ele – preciso te escrever umas coisas.

Tu terminaste comigo sem motivo, só porque eu esquecia as cuecas penduradas no box do banheiro, a tampa da privada erguida, deixava a pasta de dentes sem tampa, não esticava os lençóis da cama e ia ao banheiro fazer o número dois, após as refeições, só para não lavar a louça. Mas o mais triste, foi você inventar que achou uma caixa de Viagra na minha mochila. Aquilo não era para mim. Era para uma amigo, você sabe do meu potencial.

Ele prosseguiu.

– Diante de tudo isso, eu quero umas coisas de volta. A caixa rosa da JBL, os livros do Carpinejar, os discos do Reginaldo Rossi, Amado Batista e Roberto Carlos que dei para seu pai que, aliás, nem para me apoiar. De ti quero as lingeries, eu lavo e dou pra outra, como diz o ditado: “lavo ta novo”.

– Um pix com os valores dos shows do Ed Sheeran e The Killers, as entradas para a domingueira no Bento, a cuia escrita “Ana e João, “pa sempre”, porque o cara que fez escreveu errado e mesmo assim você me fez pagar.

E segue.

– Ah! E lembra daquela vez no motel que a gente foi comemorar quando ganhei no jogo do bicho, quero também o valor da diária. As pizzas, jantares em restaurantes e pneu do teu fusca que eu mandei trocar. Não quero saber de você andando com outro cara num fusca que tem um pneu que eu paguei. Também quero meu ventilador e as pantufas do Pica Pau.

– Você destruiu meu coração, tô chorando mais que o gato da vizinha, até esses dias ela me mandou calar a boca. Cinco anos, Ana Júlia. Que droga! Tu estragaste tudo.

E ele não para.

– Agora estou bebendo todo dia, escutando Slipknot e, às vezes, até Manoel Gomes da canção “caneta azul”. Caneta essa que você usou para rabiscar nosso amor e tirar da tua vida. Os perfumes ficam se não vou ficar lembrando de ti. Já não chega quando estou no banheiro e fico esperando você bater na porta dizendo: “apressa ai, cagão”. Meu Deus, como dói.

– A casa está um silêncio sem você, eu reclamava disso, mas agora tua ausência me atormenta. As fotos coloquei numa pasta e guardei.

– Não consigo ver mais nada do Woody Allen, muito menos ler algo do Nicolas Sparks. Prefiro Alan Poe e Bukowski. Esses dias chorei vendo “O Mundo de Bita” e “Patrulha Canina”, pois você trazia seu sobrinho pra assistir quando sua irmã pedia nossa ajuda.

– No serviço estão me chamando de João Azulzinho. Que ódio!

Amanhã, depois que eu acordar, envio todos os comprovantes e quero que coloque, todas as coisas que pedi, pelo correio. Inclusive, minha panela de pressão e a minha frigideira. Tu sabes que eu não faço refeições sem feijão e adoro pastel frito e bife empanado. E quero minha almofada do AC/DC e meu edredom do Batman.

Ana Júlia, rindo em silêncio, encaminhou a mensagem para algumas amigas. Depois, leu novamente o texto e riu mais. Ela foi ao banheiro, depois à cozinha beber um copo com água e deitou-se, novamente.

João, no dia seguinte, ressacado, acordou as duas da tarde e ao verificar o telefone, observou que a foto dela havia sumido dos seus contatos, as ligações estavam bloqueadas e nenhuma resposta havia sido enviada. Ele pensou:

– Que besteira que eu fiz.

Nunca faça ou diga nada de cabeça quente ou alcoolizado, o arrependimento acorda junto com a ressaca.

Ana nunca devolveu nada, óbvio.

Obrigado pela leitura!

Maurício Rosa.