Nas ondas do rádio- Prof. Dra. Elaine dos Santos

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O meu pai foi um homem generoso no quesito contar histórias, preservar memórias e eu sou muito grata a ele. O músico Protógenes Mello afirma que eu tenho, inclusive, uma memória mais velha que eu, se assim o for, devo-a ao meu pai, o Mario Gordo.

Envelheci e, além disso, a Covid-19 debilitou-me bastante quando se trata de lembrar, achei que seria difícil recuperar eventos, pessoas ou mesmo piadas de circo que ouvi desde criança. É mais fácil ir à padaria e esquecer de comprar pão, comprar apenas guloseimas e, ao chegar em casa, procurar o dito pão, que não foi comprado, do que esquecer fatos vividos, contados que dizem respeito à nossa História.

Boney M foi um conjunto estadunidense de grande sucesso nas décadas de 1970 e 1980 e, de repente, as suas músicas começaram a tocar numa emissora sem identificação com som local. Que festa, senhoras e senhores!! Em novembro de 1978, entrava no ar, em caráter experimental, a Rádio Integração (não lembro a frequência, que, depois, foi alterada). Ouvir a música “Rios da Babilônia” cantada por Boney M é um “gatilho” para aqueles tempos.

A minha mãe ouvia, por exemplo, a Rádio Princesa, de Candelária; a Rádio Imembuy e o programa do Cerejinha, de Santa Maria; e, frequentemente, uma emissora de rádio de Faxinal do Soturno, em que atuavam Luís Alves, Wilson Cirolini e Pedrinho Santos (hoje, Prof. Dr. Pedro Brum Santos, decano do Curso de Letras da UFSM, que foi meu orientador de mestrado e doutorado). O homem que passava a tocar o empreendimento chamado Rádio Integração era Wilson Cirolini e sua tão querida Diva Ana.

Em 02 de dezembro de 1978, no mesmo dia do aniversário de TalitoRohde e Caroline Cantarelli Rohde, inaugurava-se a Sociedade Rádio Integração, com sede no antigo Cine Orion (o cinema velho). Era uma tarde terrivelmente quente (multiplica!): autoridades, banda de música e, quase ao cair da noite, um grande temporal. Poderia ser uma mensagem dos céus, bençãos sobre o novo empreendimento.

Daquele tempo, Fernando Lesa será sempre o locutor mais lembrado, estavam ainda na equipe, como operadores de áudio Luíz Carlos Martini, Henry Carlos Bartmann, Giovani Bordignon. Com o passar dos anos, as equipes de locução e operação de áudio foram se transformando. Se a memória não me falha, foram formados locutores na Integração: Rogério Passos, Ronaldo Passos, Jorge Luiz da Rosa, Luciano Zanini Guerra, Ivo Curcino (mais ligado ao setor de venda naqueles tempos), Rogério Paulo Rockenbach e sua conhecida paixão pelas músicas de Roberto Carlos. Acresceria Evaldo Lang, que marcou época; um locutor conhecidíssimo em nível estadual também passou pela Integração, refiro-me a Joabel Pereira. Na técnica, Ivanei Gomes, Edilsan Dorneles, Perisson Dorneles, Jardel Bittencourt para não me estender muito.

Nesse meio tempo, a dona Diva seguia firme, era o coração, a alma, o cérebro da emissora. Veio o Carlos Alexandre – ele era tão bonitinho! Do cinema velho, a emissora passou para a rua Ricardo Müller, nas proximidades da residência do casal e, mais tarde, para a sede atual.

É preciso referir o Jornal Integração e um jornal mais voltado para a colônia germânica: o Deutsch, com foco em Agudo e Paraíso do Sul, em particular.

Daqui, é impossível não derivar para o Jornal, primeiro impresso, atualmente, on-line, mantido por Ivo Curcino desde 2004: Tribuna de Restinga. Um ano depois, entrava no ar, a 104,9, Rádio Líder FM, a nossa “Comunitária”, sob direção de Jorge Luiz da Rosa, em que Ivo Curcino também apresenta um programa jornalístico.

Daqueles que citei, eu tenho certeza de que Rogério Passos atua na Rádio Nova Palma 105,9, em Nova Palma; Luciano Zanini Guerra estava trabalhando em uma emissora de rádio em Santa Maria; Rogério Paulo Rockenbach está na Rádio Difusora em Bento Gonçalves; Evaldo Lang é assessor de imprensa da Câmara Municipal de Encantado; Luiz Carlos Martini continua sendo a voz símbolo da Rádio Integração, e Fernando Lesa nos deixou recentemente.

Poderia, com certeza, referir os demais jornais que circularam em nosso município, mas o meu intento foi, de fato, relembrar Boney M e as reminiscências do rádio que a música trouxe.

É fundamental que todos nós mantenhamos a memória do que somos, de quem fomos e das formas como chegamos até aqui. Chegamos com muito esforço, porque, eu sempre fico imaginando Luís Alves, Wilson e Pedrinho transmitindo jogos varzeanos (ou não) em um tempo em que poucas famílias sequer tinham telefone fixo – houve quem desbravasse, pavimentasse caminhos para que o rádio se firmasse entre nós e o rádio, cá pra nós, segue firme.