Nossos municípios: Histórias e esforços comuns

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Como se sabe, antes de ser encontrado pelos portugueses, parte do território do atual Brasil, já pertencia aos lusitanos, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, dois anos após a chegada de Cristóvão Colombo ao continente, depois, chamado América.

Porém, pelo Tratado de Tordesilhas, a região do Rio Grande do Sul (conforme a linha imaginária traçada por portugueses e espanhóis) pertenceria aos castelhanos. Em 1500, os portugueses chegaram ao nosso país, na região da Bahia e, conforme historiadores: “o Brasil foi descoberto para ser esquecido”. Por mais de 30 anos, não houve uma preocupação com a efetiva ocupação do território.

Em 1534, porém, uma expedição de reconhecimento dos portugueses passou pelo litoral do Rio Grande do Sul, em direção à Colônia de Sacramento e, naquele ano, Gaspar de Viegas registrou a existência – em um mapa – do Rio de São Pedro, provavelmente, as imediações da atual cidade de Rio Grande. Os jesuítas portugueses tentaram estabelecer por aqui no século seguinte, criaram aldeias, catequizaram indígenas, mas foram expulsos pelos bandeirantes. Importante: a gadaria das aldeias foi solta e multiplicou-se xucra – este seria o motivo para a ocupação do Rio Grande.

Somente em 1737, praticamente 200 anos depois, os portugueses construiriam a Fortaleza Jesus Maria José, berço inicial do município de Rio Grande. Em 1750, portugueses e espanhóis assinaram um novo tratado, o Tratado de Madri, que determinava que a Colônia de Sacramento, em território uruguaio, fronteiriça a Buenos Aires, passasse para o domínio castelhano e os Sete Povos das Missões (Santo Ângelo, São Borja, São Miguel e outros), passassem para domínio português. Os indígenas não aceitaram e deram início às Guerras Guaraníticas. Mais ou menos nesse período, temos os primeiros registros históricos sobre a nossa região – a região central do Rio Grande do Sul. Mas a criação dos nossos municípios ainda levaria muito tempo.

Ainda como resquícios das Guerras Guaraníticas, Cachoeira do Sul receberia, em 1769, indígenas que seriam aldeados, no local denominado, justamente, Aldeia. Eles deveriam servir como mão de obra no povoado que começava a surgir. Contudo, um Alvará de Dom João VI emanciparia a então Freguesia, que adotaria o nome de Vila Nova de São João de Cachoeira, em 26 de abril de 1819. Era, pois, o quinto município criado no Rio Grande do Sul, depois de Rio Grande, Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha e Rio Pardo, existentes desde 1809.

Cabe, assim, referir que se “nascemos castelhanos”, inicialmente; após a definição dos limites territoriais, tornamo-nos rio pardenses e, mais tarde, cachoeirenses. Tenhamos presente a imensidão do território abrangido por Cachoeira do Sul, visto que, em 1832, emanciparam-se Alegrete (com Livramento) e Caçapava (com São Gabriel); em 1857, ocorreu a separação de Santa Maria. São Sepé foi criado em 1876, abarcando terras de Cachoeira do Sul e Caçapava do Sul; cerca de um século depois, viriam as emancipações de Faxinal do Soturno, Restinga Seca e Agudo, ocorridas em 1959; em 1988, emanciparam-se Cerro Branco e Paraíso do Sul e, finalmente, em 1995, Novo Cabrais. Cumpre referir que o antigo 2º distrito de São Sepé, Formigueiro, emancipou-se em 1963 e, em 1992, foi criado o município de Vila Nova do Sul.

Um dado é relevante ao revisitarmos as Histórias dos nossos municípios – e eu já trabalhei, recentemente, com as Histórias de Tapera, de Vale do Sol, de Vera Cruz, de Pantano Grande -, trata-se dos esforços comunitários em busca do desenvolvimento de cada um dos lugares em que vivemos e em que viveram os nossos ancestrais. Os tempos eram outros, as realidades eram outras, mas houve quem pavimentasse caminhos para que chegássemos aqui, houve coragem, luta, determinação, que precisam ser reconhecidas e honradas. Houve erros? Possivelmente, sim! Foram homens, foram mulheres, foram seres humanos que se empenharam para que os nossos municípios fossem o que são hoje. Nós, como comunidade, como cidadãos, como políticos, no presente, também erramos. Não nos cabe atirar pedras sobre quem se foi e tinha muito menos recursos que nós.