O “CARAMELO” QUE HÁ OU DEVERIA HAVER EM NÓS – Maurício Rosa- Crônica

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No livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, existe um personagem chamado Sansão, um cavalo, quem leu o livro sabe o que ele representa, mas quem não, tudo bem. Explico: essa figura, criada pelo autor, representa a classe operária que trabalha da forma mais bruta possível. Construtores, serventes, operários do lixo e todas as outras áreas que exigem força. Sansão é isso no livro.

Durante a narrativa, a revolução não sai como todos esperavam, mas ele acredita que, independentemente, do que acontecer, ele deve sempre servir, pois nasceu forte e seria um desperdício não usar sua força para ajudar, mesmo a “Granja dos Bichos” sendo coordenado, no momento, por um ditador.

No romance, Sansão, tem sua esposa Quitéria, que possui os mesmos ideais do companheiro: “trabalhar duro, somos fortes, fazemos coisas que outros não fazem”, isso ele repete o livro inteiro. O final do casal de equinos é bem triste, mostra que, muitas vezes, trabalhamos a vida toda sem pensar no futuro, cuidar da saúde e criar objetivos, apenas para agradar patrões ricos e, muitas vezes, por questão de não ter escolha mesmo. Para muitos, o que resta é trabalhar, e trabalhar, e trabalhar.

Sabemos da força, a importância histórica e a inteligência dos equinos. Caramelo chamou atenção para séculos de fatos, em sua maioria guerras. Certa vez li em um romance: “se eu falasse com um cavalo, teria mais informações”. Eu não tenho um, mas conheço pessoas que dariam a vida por esses animais, assim como eles fariam e fizeram o mesmo.

Mas qual a relação dele conosco, qual lição fica?

Um ser humano, provavelmente, não aguentaria ficar nas condições em que Caramelo se encontrava. Em pé, sem comida, bebida, pegando sol, chuva, passando calor, frio. O clima variou muito enquanto ele estava ilhado, mas sua resistência venceu. Não é a primeira vez que um animal vira símbolo de resiliência e talvez isso seja propositalmente vindo do universo, para mostrar nossa fraqueza humana. A de eue precisamos nos unir. Como está acontecendo.

Caramelo deixa outro recado: o silêncio da dor. Contrariando pessoas, sem generalizar, que fazem um monólogo enorme sobre uma simples dor de cabeça, uma leve dor de dente ou um efêmero resfriado.

Enquanto isso, outros “caramelos” definham em camas de hospitais, com câncer e demais doenças silenciosas que, ao final, se bem interpretadas, deixam uma lição, mas isso, para muitos, não importa. Se os equinos eram um dos símbolos do estado relacionados a luta e força, principalmente bélica, agora, através de “Caramelo”, podemos rever nossas lutas pessoais, recarregar nossas energias, sermos mais empáticos, fortes com relação a saúde mental e física e principalmente, fortes no amor ao próximo.

 

Que águas não precisem levar a água do vizinho para você lembrar que tem um, isso vale para parentescos também. E que muitas vezes não precisamos fazer barulho algum para expressar que estamos sofrendo.

Caramelo adoçou nossa dor com sua posição amuada e silenciosa, imagina se ele falasse?

Obrigado pela leitura.

Foto- Reprodução Globo News.