O HOMEM QUE DIZIA SER SANTO AGOSTINHO: Mauricio Rosa

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No início do Século XIX, um grande filósofo chamado Joaquim Borba dos Santos, criou sua obra prima: o princípio de Humanitas. Questionado por seu amigo, ele explicou de forma muito didática: “é o princípio universal mais genial do mundo e eu, como criador, sou o homem mais genial do mundo.

É um princípio que explica que há nas pessoas uma substância recôndita e idêntica, é única, eterna, comum, indivisível e indestrutível”.

Aos poucos, podemos entender que essa substância é a alma. Questionado, mais uma vez por seu amigo, ele responde: “Humanitas é o homem”, apenas para complicar a vida de seu humilde dicente. Para começar, nesse princípio não existe a palavra morte, para o filósofo, morte é vida. É a união de expansões do que foi e do que espera. Tratando aqui, claramente, do encontro da alma com um novo espaço espiritual. Para ele, a morte é uma expansão, logo não faz sentido tratar de forma finalizadora e sim como recomeço. Esse recomeço espiritual é complexo, mas no campo físico é basicamente dizer que quando uma pessoa morre, ela ainda vive na gente. Lembranças, cheiros, perfume e tudo mais. Ela expande, pois fica aqui conosco nas lembrancas e segue no âmbito espiritual que daí depende da crença de cada um.

Então, a partir desse princípio ele explica a fundamentação da guerra. Sim, eu sei. Está muito doida essa crônica, mas avante.

Para o filósofo Joaquim, a guerra possui caráter conservador e benéfico. O quê? Calma.

Ele exemplifica usando um campo de batatas sendo disputado por duas tribos. Porém, tais batatas só podem alimentar uma tribo que, assim que a obtém, ganha força pra seguir em frente, mas se as duas tribos dividirem as batatas, ambas saem perdendo e não evoluem nas jornadas. Por isso, uma precisa exterminar a outra. A vencedora recolhe os despojos e segue. O filósofo explica que, nesse caso, a paz é a destruição e a guerra, a conservação. Por quê? Que graça há em dividir as batatas e viver em harmonia? É preciso conservar a luta para que, ao final, tenhamos hinos, discursos e todos os demais prêmios das ações bélicas. Além de medalhas, medalhas e medalhas.

Se a guerra não fosse “benefica”, essas demonstrações não existiriam. O homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e também pelo motivo de que nenhum derrotado é canonizado. “Por isso, ao vencido, ódio. Ao vencedor, as batatas”.

– Mas o vencido não recebe nem um mérito da luta, pelo menos? Pergunta o amigo do filósofo.
– O vencido é apenas um termo, assim como o vencedor, já lhe disse: a substância (alma) é a mesma, esqueceu o princípio? Essas denominações são apenas para classificar e separar, humilhar. Como água que, quando ferve, borbulha, ao desligar o fogo, volta a ser água, sem bolhas. É tudo água.

Os termos “Paz destruidora” e “Guerra benéfica” é uma ironia usada pelo autor que, na verdade, quer dizer que Paz e Guerra são antônimos e jamais devem perder esse sentido. Um mundo totalmente em paz ou totalmente em guerra não existe. Sempre vai haver uma disputa de classe, de fronteira, de poder político, de cargo de emprego e até de amores. Assim como haverá filantropia, e demais ajudas sociais. São essas divisões de tarefas que movem o mundo. É triste, mas é a realidade.

Sempre haverá vencidos e vencedores, mas na filosofia, Humanitas, de Joaquim Borba dos Santos, mais conhecido como Quincas Borba, há uma substância indivisível, única e que todo mundo tem: a alma.

O tamanho da alma não é contabilizado nas despesas do velório. E se você está comendo “batatas” que tirou alguém de modo indevido, saiba que não é disso que a consciência se alimenta.

Uma dos pensamentos mais brilhantes sobre a dicotomia em que vivemos. E ele escreveu isso em 1890.

Pergunta: o que mudou?

Crônica baseada num trecho do VI capítulo do livro “Quincas Borba”. Do meu maior, Machado de Assis.

Ah! Para saber o nome do amigo questionador e entender o título da crônica, tem que ler o livro.

Castiguinho 😉 😉

Obrigado pela leitura.