O que é felicidade? Francisco Melgareco
“Você só é livre quando faz o que não quer, pois se faz somente o que quer você é escravo dos seus desejos.” Immanuel Kant.
A incessante busca por felicidade está nos tornando infelizes. Por mais estranho que essa afirmação pareça, é uma realidade observável em todo lugar.
Estamos sempre em busca de “mais”, em um mundo com um turbilhão de estímulos aos quais nosso cérebro ainda não se adaptou para suportar. Tentamos a todo custo preencher o vazio de nossos dias com consumo desenfreado, rotinas frenéticas e obsessão por atenção.
Perdemos a capacidade de apreciar nossa própria companhia e refletir a sós sobre nossos pensamentos. A consciência sobre nossa existência foi o que nos trouxe até aqui como humanidade, e hoje sequer paramos para pensar sobre nossas ações e suas consequências.
Somos parte de uma geração que não suporta um minuto sequer de tédio. As telas digitais estão 24 horas disponíveis e dispostas a fornecer recompensas rápidas e baratas.
Nosso cérebro não descansa mais, e para piorar está completamente viciado nestes impulsos artificiais prazerosos. Estamos ficando doentes sem perceber e o custo a ser pago pode ser alto demais.
A internet, de maneira geral, está se transformando cada vez mais em um antro de vaidades. Redes sociais converteram-se em um canal de observação e comparação com a vida alheia, uma verdadeira seleção de melhores momentos.
O superficial torna-se a verdade absoluta do outro, levando aqueles que se comparam a se sentirem-se diminuídos e tristes. Parecer torna-se mais importante que ser, e a competição de quem passa uma imagem melhor de sua vida acaba por se tornar o objetivo principal da nossa sociedade.
Desaprendemos a dar valor aquilo que realmente importa. Não saboreamos a comida, ela esfria enquanto tiramos a foto. Nem sequer olhamos nos olhos uns dos outros enquanto conversamos.
Deixamos de observar com interesse uma bela paisagem, não sentimos a brisa no rosto, o perfume das flores. Não estamos verdadeiramente presentes em nenhum momento dos nossos dias.
O excesso de futuro que nos assola traz ansiedade crônica. O anseio incontrolável por mais nos impede de aproveitar e valorizar o que temos.
É preciso encontrar o equilíbrio, e isso é realmente difícil. A busca por propósito tem cada vez mais importância em um mundo de prazeres infinitos, rápidos e passageiros. Uma vida genuinamente feliz só é possível quando sentimos que nossa existência faz sentido.
Felicidade plena e abundante só é encontrada no presente, na presença real e verdadeira em cada momento de nossas vidas. Ela não está nas festas, nas bebidas ou comidas.
Tampouco nos bens adquiridos ou riquezas acumuladas. Está na companhia, das pessoas, ou da nossa própria consciência. A felicidade está na nossa mente, está na nossa frente, e só é possível vê-la com os olhos abertos, corpo e alma presentes.
A felicidade é um presente.