O SILÊNCIO DA RAZÃO –A Nova Inquisição Científica- Mauro Falcão. Crônica

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Quem não se comoveu com a partida de Preta Gil? Mais uma vítima do câncer — ou do imobilismo científico que se recusa a evoluir? Sua morte não é apenas uma tragédia pessoal.

É o reflexo de um sistema que repete fórmulas ultrapassadas enquanto ignora alternativas promissoras, apenas porque não geram lucro suficiente.

Vivemos um tempo em que a razão foi sequestrada por conveniências e rotulada de “pseudociência”. Pensar fora do padrão é heresia. Questionar virou afronta. O cientificismo — a fé cega na ciência institucionalizada — tornou-se a nova inquisição. Não se trata de negar a ciência, mas de denunciar seu uso ideológico e comercial.

A quimioterapia é o exemplo mais emblemático. Criada nos anos 1940, ainda é o tratamento padrão contra o câncer. Não porque seja a mais eficaz, mas porque sustenta um sistema bilionário de repasses públicos e contratos privados. Fórmulas simples, baratas e muitas vezes eficazes são descartadas ou ignoradas — não por falta de mérito científico, mas por não agregarem valor financeiro ao mercado. A quimioterapia, ao manter o monopólio do tratamento, age como uma barreira para que novas abordagens sequer cheguem à população.

Atualmente, a fogueira da inquisição moderna se chama cancelamento. Pesquisadores que ousam propor caminhos alternativos são ridicularizados, silenciados ou afastados. A história se repete: Freud, Galileu, Pasteur, Einstein — todos foram desacreditados antes de serem celebrados. O novo saber, primeiro assusta. Depois incomoda. Só então é aceito.

Há, porém, um risco sutil: ao criticar o sistema, podemos replicar seus próprios métodos de exclusão. Tornamo-nos, sem perceber, parte da engrenagem que combatemos. O controle se perpetua também pela adesão inconsciente de quem o sustenta.

A ciência verdadeira não teme a dúvida — ela nasce dela. Mas o que vemos hoje é a substituição da investigação pela autoridade de “especialistas” que não querem transparência, mas prestígio, contratos e estabilidade.

Defender a razão, hoje, exige coragem. Exige sensibilidade. Exige olhar para a dor humana com olhos que enxerguem além dos números — e devolver à ciência seu propósito original: servir à vida, e não ao lucro.

*Mauro Falcão, escritor brasileiro*