Perder as estribeiras: Sérgio da Silva Almeida

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 Rotina agitada, situação estressante, expectativa frustrada, ligação indesejada de telemarketing, solicitação de cancelamento de plano de celular ou cartão de crédito, ser mal atendido ou alguém que amola nossa paciência podem fazer o coração acelerar, as mãos suarem e, consequentemente, nos levar a perder a calma, como dizemos: “perder as estribeiras”. A origem da expressão está nos jogos europeus de cavalaria dos séculos XV a XVII, e significa “ficar sem contato com os estribos”, ato que desclassificava o cavaleiro.

 O neurocientista Ramon M. Cosenza, em seu livro “Por que não somos racionais”, afirma que somos seres emocionais com lapsos de racionalidade. Sabendo disso, toda vez que preciso “manter a cabeça no lugar” em meio ao estresse diário, tento trazer à memória a história do rei que ofereceu um prêmio a quem fosse capaz de captar em uma pintura a paz que excede todo entendimento. 

 No dia marcado, várias telas foram apresentadas ao rei, que as analisou com atenção. Todas eram belíssimas. Porém, ele queria encontrar aquela que representasse a paz que excede todo entendimento. No fim, separou duas. 

A primeira representava um lago sereno, onde se refletia uma linda paisagem com árvores, montanhas e nuvens no céu. Toques suaves, delicados e todos que olharam para o quadro achavam que ele representava perfeitamente a paz.

 A segunda também continha montanhas, mas pedregosas. Sobre elas havia um céu com nuvens escuras e tempestuosas, chuva forte, raios e trovões. As águas da cachoeira agitada batiam nas rochas e provocavam um barulho estrondoso. As pinceladas eram vigorosas e fortes. Nada naquele quadro parecia representar a paz. 

Quando todos já olhavam com estranheza para aquela obra, o rei reparou um pequeno detalhe: atrás da queda-d’água havia um arbusto em uma fenda na rocha. E nele um delicado ninho onde, apesar das águas turbulentas, um pássaro, calmamente sentado, observava a natureza… na mais profunda paz! 

O rei, sem pestanejar, escolheu a segunda tela. Todos ficaram espantados e o monarca explicou: “A paz que excede todo entendimento não é estar em um lugar calmo, sem problemas ou livre de situações de estresse, mas, sim, “não perder as estribeiras” independentemente do que aconteça ao redor.