Piloto automático: Sérgio da Silva Almeida- Crônica
⁷Não sofro de aerofobia, porém, basta a voz anunciar: “Senhores passageiros, estamos passando por uma área de turbulência. Pedimos que permaneçam sentados e com os cintos afivelados”, para que eu respire fundo, comece a suar e clame em voz baixa: “Ó, senhor Jesus!”.
Estatisticamente, o carro é o meio de transporte mais perigoso. Dentre os acidentes ocorridos no ano passado, 63,3% envolveram carros. Já o avião é o segundo mais seguro – o primeiro é o elevador. Mesmo sabendo disso, quando a aeronave começa a chacoalhar eu não consigo evitar o nervosismo.
Dia 16, no voo de Uberlândia (MG) a Guarulhos (SP), eu estava na terceira fileira à espera daquele profissional que costuma agir no piloto automático para fazer aquela monótona apresentação dos procedimentos de segurança que, cá entre nós, quase ninguém presta atenção, quando presenciei o comissário de bordo Giorgio Schneider (foto) cativar a todos com seu jeito “de bem com a vida”. “Informações adicionais podem ser encontradas… me deu branco, agora… alguém sabe aonde?”. Ao ver um passageiro mostrar o cartão de segurança, Giorgio brincou: “Exatamente! Mesmo que raramente seja lido e que muitos o usem para se abanar ou guardar chicletes, ele se encontra no bolsão à sua frente”. E após receber de volta um punhado de gargalhadas, Giorgio se alegrou: “É um prazer ganhar esses sorrisos!”.
Após mais instruções, Giorgio perguntou: “Alguém já viu a Família Addams? Sim, sou o tio Chico…”. O avião veio abaixo, e ele finalizou: “Desejo que sua semana seja repleta de sorrisos e bons momentos”. Quando finalizou, o avião inteiro aplaudiu.
O comissário de bordo da Latam poderia ter executado sua tarefa no modo “piloto automático”, mas o fez com bom-humor e criatividade, pois sabe que, às vezes, tudo o que os passageiros precisam é de um sorriso para se sentirem bem. E eu, após um voo solto e despreocupado, fiquei com a certeza de que, em um mundo onde as pessoas têm sido mais simpáticas em selfies do que com os outros, Giorgio está longe de ser um profissional que desenvolve suas atividades no “piloto automático”.