Polícial sepeense esteve na linha de frente do resgate de menina sequestrada em Tramandaí

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Nossa reportagem especial deste sábado, 1⁰ de Março, destaca o caso que aconteceu em Tramandaí, no Litoral Norte do RS, onde uma criança desapareceu no dia 25 de fevereiro, após sair sozinha para brincar e foi mantida refém por homem dentro de um alçapão. O sequestrador morreu após ser linchado por um grupo de moradores. A menina de 9 anos foi resgatada pelos policiais.  O caso ganhou grande repercussão no Brasil e Exterior.

Sargento natural de São Sepé participou do resgate: 

Reportagem: Luís Garcia.

O policial militar Christian Teixeira Pacheco, 2º Sargento, natural de São Sepé esteve na linha de frente e foi quem encontrou a menina que foi sequestrada em Tramandaí.

O policial fala sobre o fato e sua carreira na Brigada Militar.

JG: Vamos falar primeiro da tua formação militar, como foi?

Christian: Ingressei como Soldado na Brigada Militar no ano de 2012, fiz o curso em Porto Alegre, no Comando Rodoviário, após formado, trabalhei de 2013 a 2015 no município de Osório, retornando à Santa Maria no ano de 2015, em 2021 fui aprovado no Curso Técnico de Segurança Pública, quando fui promovido à graduação de Segundo Sargento e permaneci exercendo as funções de Sargento na Polícia Rodoviária Estadual. Porém sempre tive o sonho de servir no CHOQUE e em 2024, com apoio e incentivo da minha família, solicitei transferência para o 2º Batalhão de Polícia de Choque, com sede em Santa Maria também, local onde atualmente exerço minhas funções.

JG Sobre São Sepé. Familiares, estudos, podes falar pouco?

Christian: Sou filho do Cláudio Pacheco e da Verônica Teixeira, ambos naturais de São Sepé também.

Sendo filho de Brigadiano, então desde que “me conheço por gente” convivo com o pai e os colegas brigadianos, sempre gostei de estar perto deles ouvindo os “causos brigadianos” sobre ocorrências e façanhas, acredito que essa convivência próxima e admiração pela corporação que tenha feito eu escolher trilhar este caminho profissional.

Em São Sepé, iniciei o ensino fundamental na Escola Professora Maria José Valmarath e concluí no Instituto Estadual Educacional Tiaraju, posteriormente, iniciei o ensino médio no CESS, sendo que no segundo ano passei a residir e estudar em Santa Maria, onde concluí o ensino médio e a formação acadêmica no curso de Direito.

JG: Sobre a ocorrência. Como ocorreu e a partir de que momento a polícia entrou no caso?

Christian: Durante patrulhamento tático operacional, minha equipe recebeu via COPOM a informação de que um popular havia ligado para o 190, afirmando que possuía um vídeo da câmera de segurança da sua residência, dando conta de que a menina desaparecida no dia anterior, havia entrado e não mais saído do mini mercado pertencente a MARCO ANTONIO BOCKER JACOB, localizado em frente à pracinha onde a menina brincava e havia desaparecido.

Diante de tais informações, a equipe do Auxiliar de Serviço ao aproximar-se da conveniência, fez contato com uma equipe da PM2 (Seção de inteligência da Brigada Militar) que também estava no local. As equipes ingressaram no estabelecimento, onde se encontrava o criminoso, este aumentou o volume do som, no intuito de abafar os gritos de socorro da refém sequestrada, foi solicitado que desligasse o som, momento em que foi possível ouvir os gritos de socorro meio abafados, de imediato iniciaram-se as buscas à menor no interior do estabelecimento, qual estava guiando as equipes gritando que “ele tapou”, “estou aqui em baixo”, “tem umas coisas em cima”.

Ao tentar efetuar a prisão do indivíduo enquanto realizava as buscas pela vítima, populares que passavam pelo local, foram alertados que MARCO mantinha a menor em cativeiro, por outro popular que estava no interior do estabelecimento e também ouviu os gritos de socorro da vítima e imediatamente dezenas de pessoas invadiram a distribuidora com o fito de linchar o criminoso, o agredindo severamente.

Logo após o início da invasão e linchamento do criminoso, outra equipe também já estava no local, no intuito de dispersar da horda de agressores, utilizamos espargidores de pimenta, mesmo assim não foi possível contê-los, restando um colega da PM2 com um ferimento no braço, qual necessitou de atendimento médico sendo necessários 8 pontos de sutura no seu ferimento.

Diante da visível inferioridade de força policial no local para confrontar a horda de agressores, foi solicitado apoio às demais viaturas que estavam de serviço em Tramandaí e Imbé, aos efetivos dos 1º e 2º BPCHQ que estavam de folga em Tramandaí, quais equiparam-se e assim que possível deslocaram até o local, formaram linha de choque e com o uso de armamento antimotim, granadas de efeito moral e gás lacrimogênio, conseguiram dispersar a horda que contava com mais de 300 de agressores e que antes de irem embora ainda danificaram diversas viaturas que estavam no local.

O autor do fato foi socorrido pelo SAMU e encaminhado ao UPA para atendimento, porém não resistiu aos ferimentos, vindo a óbito.

JG Como ocorreu o resgate? Como chegou até a menina?

Christian: Após  os gritos dela pedindo socorro, iniciamos as buscas, porém eram gritos abafados, visto que ela estava dentro de um buraco no chão, tampado com uma laje de concreto que foi necessário o uso de um pé de cabra para abrir. Foram alguns segundos que pareciam horas, nós correndo de dentro pra fora da casa, tentando encontrá-la, a voz ficava alta e logo em seguida abaixava, até que a menina nos orientou que estava no chão e que ele tinha colocado algumas coisas em cima, foi então que começamos a retirar os engradados de cerveja do lugar e localizamos a tampa do bueiro onde ela era mantida refém.

JG Qual foi a reação dela quando te viu?

Christian: Ela estendeu os braços para que a retirássemos, eu e o colega da P2 a puxamos para fora do buraco, ele a pegou no colo e ela começo a falar que o crimonoso a havia abusado, ela estava muito assustada, tanto que quando viu o criminoso novamente, gritou “ele tá vindo”, difício imaginar o medo que ela estava sentindo depois das horas de terror que passou sob o domínio do criminoso.

JG : Qual o teu sentimento como pai, mas ao mesmo tempo tendo que ser frio e profissional ao se deparar com o fato?

Christian: O policial sempre busca dissociar sua vida pessoal da atividade profissional, mas em casos como este, envolvendo criança, é muito difícil separar as coisas, sou pai, tenho uma filha de 9 anos e uma enteada de 6 anos, quando ouvi a voz da pequena, parece que estava ouvindo a voz da minha filha e acredito que a única reação que automaticamente me ocorreu, era acolher a pequena como se fosse minha filha e lhe proporcionar a segurança e o cuidado que ela, em especial naquele momento traumático, estava precisando.

No momento da ocorrência foi no automático, o emocional ficou tranquilo, consegui cumprir a missão, porém, depois de baixar a poeira, quando torno a assistir o vídeo e escuto minha voz e a dela, é difícil não se emocionar, apesar de vestir uma farda, somos humanos e jamais vamos nos acostumar ou normalizar a crueldade que um sociopata possui. Não consigo nem imaginar o que ela passou naquele buraco escuro e também o que de ruim poderia ter acontecido com ela, se não a tivéssemos encontrado. Só posso agradecer a Deus por ter me utilizado como seu instrumento para localizar e salvar a vida daquele anjinho.

JG: Qual a mensagem que você deixaria para os pais em relação aos cuidados com crianças e evitar situações como essa?

Christian: A coisa que rogo aos pais é que não asustem suas crianças com os policiais, ao invés disso fomentem uma aproximação com a polícia, pois quando seu filho precisar de ajuda, irá nos procurar e certamente será acolhido por um Brigadiano ou Brigadiana que o levará em segurança até sua família.

As crianças devem sempre ser monitoradas pelos pais, não forcem a convivência ou simpatia do seu filho com quem ela não gosta de conviver, seja familiar ou estranho, a criança pode ter se sentido desconfortável com aquele adulto, porém pode não saber expressar o que sente por vergonha ou receio de contar para os pais.

Dados do Ministério da Saúde indicam que 73% dos casos de violência sexual registrados no país são contra crianças e adolescentes e cerca de 84% das vezes essa violência é praticada por familiares ou pessoas próximas. Os números são alarmantes, no Brasil, a cada hora 4 meninas são vítimas de violência sexual. Quando o assunto é criança, todo o cuidado e zelo é necessário, afinal, somos seus guardiões.

Por fim, peço que confiem na Brigada Militar, atuamos diuturnamente e incansavelmente para proteger o povo Gaúcho e nossas crianças.

As imagens a seguir são do local onde a menina foi resgatada.