POR QUE EU DEVO ME IMPORTAR? Maurício Rosa- Crônica

Essa semana, assistindo a um dos seriados mais importantes da minha vida, uma cena mandou meu sono para outra galáxia.
A série se chama “Ted Lasso” e conta a história de um treinador de futebol americano que vai para a Inglaterra treinar um time de futebol, apenas. Ele não sabe as regras, por exemplo, o que é um lateral ou escanteio, mas o que me prendeu na personagem foi a motivação do mesmo diante de tanta pressão e ofensas. São coisas absurdas que dizem a ele, mas Ted apenas reage de forma positiva. Ao longo do enredo a gente descobre o porquê dessa “casca”. Algo crucial para o desenvolvimento de todos os personagens do seriado. Todas as conexões partem das atitudes do Ted e isso mostra o poder de um grande roteirista.
A cena mais forte foi quando um dos jogadores precisou revelar ao time que era homossexual. A atitude dos colegas foi “ok”, ” tudo bem”,
“eu não me importo”. Então Ted contou a história de um amigo que tinha passado pela mesma situação e que todo mundo falou que também tinha dito que não se importava, inclusive ele.
O amigo que tinha inúmeros sonhos, planos, acabou depressivo e por fim… aquilo.
Ted disse que os colegas de time deviam se importar em ter um colega gay, sim. Porque o mundo é muito cruel e se tinha alguém que poderia cuidar dele eram seus amigos. Um jogador de futebol homossexual? O mundo destruiria com a alma do atleta.
E a vida é assim. A gente diz que se importa com as pessoas, mas na verdade é mentira. Vivemos no mundo do qualquer “coisa me liga”, “manda um zap”, “um direct”, como se você é que precisasse de ajuda.
Importar é trazer pra dentro. Dividir a dor, o momento, as lágrimas. Importar é estar ao lado, servir um chá, contar uma história, tirar da cama, convidar para uma caminhada. Muitas pessoas estão precisando dessa importação porque não têm força para fazer isso sozinhas. A sociedade só julga, fofoca, expõe ao ridículo, vive a vida em reels e comisera por um like com fotos entupidas de efeitos, escondendo sua essência e principalmente a real beleza.
Outra coisa que aprendi, lindamente, com essa série, foi que, quando algo ruim acontece, devemos ser como “peixinhos dourados”, porque a memória deste dura apenas 3 segundos. Então, quando não for algo muito grande e veemente, seja um “peixinho dourado”. Tem gente ou situação que não vale a sua paz.
Se importe com a crença, com a sexualidade, educação, saúde mental. Mas se importe mesmo, de forma material, física, no toque. Fale, não digite. Esteja presente, não solicite. Pegue na mão, diga o que sente. Não há vergonha alguma.
Tem gente que descobre tarde demais o quanto poderia ter sido mais importante na vida de alguém.
Se importe, mas se importe mesmo. De edificar, salvar e exaltar alguém. “Você é linda, tu é incrível, eu adoro estar contigo, como eu aprendo ao seu lado, eu te admiro demais…”. Simples.
Incentive aquele amigo que quer perder peso. Que pretende começar a correr. Que decidiu tentar algo que pode manter vocês longe, fisicamente, mas juntos em pensamento. Jamais seja egoísta com o crescimento alheio, use isso como inspiração.
Rompa esse silêncio de incômodo que a tua amargura criou. Elogiar alguém, por incrível que pareça é, e esta provado, faz muito bem para alma, de todos.
Se a gente parar para pensar, está todo mundo precisando de ajuda. Portanto, se você acredita na vida e em seus sonhos, fale bem alto isso quando puder, porque eu não ouço mais quem não acredita em si mesmo.
A pena leve como alma, pousa sobre meu ombro, num sopro eu posso mandar ela para algum lugar, mas gosto dela aqui, ela me lembra da leveza que a vida pode ser quando aceito as coisas que não posso controlar e que também me remetem que pesado mesmo é a invisibilidade da tristeza que eu insisto em manter como companhia.
Importe-se. Para honrar alguém não é preciso esperar a morte.
Obrigado!