Qual será o próximo patrimônio sepeense apagado? Felipe Rios Pereira- Crônica

Na avenida 7 de setembro havia uma linda casa que foi a primeira sede da Câmara. Na esquina da praça outro lindo casarão do início do século XX. Onde hoje é o Centro Cultural Diolofau Brum um lindo teatro.
Em comum: todos foram destruídos. A cidade de São Sepé, diferente de diversas cidades gaúchas, colocou abaixo uma grossa fatia de sua História. Nesta semana, a notícia do apagamento do Fogo de chão, um patrimônio que faz nossa cidade ser reconhecida no estado, foi só mais um capítulo de décadas de descaso do sepeense para com sua História.
Que fique claro, este texto está longe de ser uma crítica à família Simões Pires que, há décadas, com esmero e recursos unicamente seus mantinha o fogo aceso.
A minha cobrança é, principalmente, ao poder público, aos gestores que se sucederam nas últimas décadas, assim como vereadores. Até quanto a inação permitirá que esse processo siga? A verdade é que se não houver mobilização do poder público, não haverá salvaguarda. Essa é a infeliz verdade do nosso país. Temos hoje uma legislação de tombamento municipal (de proteção) que é antiga, desatualizada e protege pouquíssimos bens, como a Bica.
Vale lembrar, no entanto, que não se pode seguir em uma lógica que o Estado proíbe o ente privado de destruir o patrimônio e apenas isso. É preciso trabalhar em contrapartidas, principalmente econômicas, para que diversos proprietários possam seguir preservando.
Um exemplo exitoso foi a criação da rota turística rural, a qual colocou como atribuição do escritório de desenvolvimento a limpeza da área da Gruta do Marco, bem como a criação de bem feitorias como corrimãos e degraus. Me pergunto o que poderia ter sido feito se houvesse um diálogo mais produtivo das administrações ao longo do tempo quanto à questão do Fogo de Chão.
Espero que ao menos possa, a partir desse alerta, se tomar medidas para preservação do prédio que tem uma estrutura, comprovada em suas paredes, telhas e documentos históricos de mais de 200 anos referente aos primeiros povoadores Portugueses da região, com a sesmaria doada a Mateus Simões Pires.
Reafirmo, que é preciso ação, investimento, recursos para preservar o material. Leis de salvaguarda. Ainda temos a Praça e seus monumentos, a Igreja das Mercês, a parte antiga do prédio da Prefeitura, o clube Visconde, o Rio São Sepé, os arcos do lajeado do moinho, a Gruta do Marco, a Pulquéria….não podemos deixar esses irem.
Além disso, é preciso focar no fundamental. Quaisquer medidas precisam necessariamente vir acompanhadas de processos educativos.
É necessária uma revisão de documentos municipais ou mesmo a criação de leis que garantam o ensino da História Local no currículo das escolas presentes no município. Nenhum patrimônio se manterá de pé se a população não assim os reconhecer.
Se não estiver educada ao ponto de defendê-los da extinção. Nessa linha, é preciso tanto preparar melhor os professores municipais, como fundamentalmente criar materiais didáticos sobre os assuntos, educar no tema para além da semana do município, criar uma rotina de visitas (assim como acontece em outros países) em patrimônios e museus. Aliás, o museu municipal, da forma como está organizado, está apenas como um depósito de antiguidades. É preciso também revitalizá-lo e usá-lo.
Nada disso é tarefa fácil. Demanda muito trabalho e não há solução mágica. O fundamental é que a comunidade e o poder público entendam a gravidade da questão e que, a partir disso, possamos caminhar para resolvê-la.
E sublinho, essa não é uma questão partidária de A ou B, desse ou daquele vereador ou prefeito. É algo que precisa ser uma causa dos sepeenses para salvar o pouco que ainda resta da nossa História. O pouco que posso oferecer é a minha ajuda como historiador e professor a quem quiser pegar junto na causa. Que arregacemos as mangas!