Repensado o papel das pesquisas na democracia: Mauro Falcão 

0
197

As pesquisas eleitorais são instrumentos legais, permitidos pelo ordenamento jurídico. No entanto, até que ponto elas influenciam a opinião pública e seus reflexos na sociedade? Estariam contribuindo para a construção da democracia ou apenas contaminando suas percepções?

Com o tempo, a justificativa original para o uso dessas pesquisas, que seria instrutiva, perdeu sua essência. Hoje, elas servem mais como ferramentas jornalísticas, muitas vezes sem considerar o impacto real na sociedade. Em vez de promover o debate de propostas, as pesquisas tendem a destacar nomes, alimentando disputas e antagonismos.

Assim, o eleitor deixa de escolher o candidato mais qualificado para focar naquele que demonstra maior resiliência emocional, e não capacidade intelectual. A política se transforma em um embate de gladiadores, onde o que se valoriza é a capacidade de enfrentar, não de construir. O resultado disso é que elegemos não o melhor governante, mas aquele que acreditamos ser o adversário mais forte para derrotar quem não desejamos ver no poder. Logo, as pesquisas desestimulam a análise crítica e passamos a ter uma visão imprópria da realidade, levando-nos a seguir um fluxo ideológico sem uma base racional.

Diante desse cenário, o conceito de voto útil surge com força. Nasce assim, um subproduto desse método: vota-se não por ideias ou propostas, mas para impedir a vitória de outro. Isso distorce o processo democrático, pois a escolha passa a ser pautada pelo medo ou rejeição, e não pela esperança de um projeto melhor para o futuro.

É crucial refletir sobre como as pesquisas eleitorais estão sendo conduzidas e qual impacto têm na sociedade. Elas deveriam servir para esclarecer o eleitorado e enriquecer o debate político, mas têm se tornado, cada vez mais, um estímulo a divisões improdutivas, em vez de fomentar diálogos construtivos que beneficiem o bem comum.

Este é o momento de repensar se as pesquisas estão cumprindo seu papel de contribuir para a sociedade ou apenas alimentando conflitos, desviando o foco de questões relevantes para o desenvolvimento democrático.

*Mauro Falcão – Escritor brasileiro*