Sobre origens: São Sepé, Formigueiro, Restinga- Professora Elaine dos Santos

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A História registra que Formigueiro, o antigo 2º distrito, emancipou-se de São Sepé em 1963. Sabemos também que, no atual município – conhecido por Formigueiro das Carretas -, desde, pelo menos, 1750, havia uma fazenda – a Fazenda São João – em que viviam indígenas catequizados por jesuítas. Referimo-nos, pois, ao que se pode denominar tanto origem de São Sepé, quanto de Formigueiro.

Mas ainda em relação a São Sepé, é preciso fazer menção à “Capela”, proposta inicial do carpinteiro Francisco Antônio de Vargas. Em 1829, o Vigário Geral de Porto Alegre autorizou a criação da Capela de Nossa Senhora da Conceição e, em fevereiro de 1830, uma carreta partiu de Formigueiro, carregando uma grande cruz de madeira de ipê, que, após a viagem, foi afixada no local escolhido. Na atualidade, a Igreja Matriz de São Sepé, situada em frente à praça central, homenageia Nossa Senhora das Mercês (e essa história tem também um viés bem interessante).

Quanto a Restinga Seca, as informações documentais dão conta que, no contexto das Guerras Guaraníticas, em 1754, as tropas portuguesas, sob o comando de Gomes Freire, estiveram às margens do Rio Jacuí, na localidade do Passo do Jacuí (atual território restinguense), encontrando-se com guerreiros vindos das missões, em defesa das suas terras. Os caciques guaranis e seus combatentes, incluindo o mítico Sepé Tiaraju, acamparam no lado restinguense. O fato, segundo diversos historiadores, é considerado importante no desenrolar da ocupação dos Sete Povos, porque teria retardado a sua dizimação em quase dois anos.

O nome “Restinga Secca” (assim, como dois “cc”), por sua vez, apareceria cerca de 30 anos depois, em 1787, entre os homens que faziam a demarcação das fronteiras entre as terras portuguesas e espanholas, sendo confirmado em documentos de 1817 e, logo depois, nos registros de Auguste Saint Hilaire, o mais importante viajante europeu a cruzar o Rio Grande de então, que faz referência à Fazenda Restinga Seca. Lacy Cabral Oliveira, a mais importante pesquisadora sobre a História de Restinga Seca, refere que essa fazenda foi incorporada à sesmaria doada ao Coronel Antonio Gonçalves Borges. Fica, no entanto, a convicção que o território já era ocupado ao final do século XVIII (18) e início do século XIX (19).

Outro dado relevante é que, ao final da Revolução Farroupilha (1835-1845), coube ao então Barão de Caxias reorganizar a administração e a infraestrutura da Província do Rio Grande. Assim sendo, em 1849, iniciou-se a construção de uma ponte sobre o Rio Jacuí, unindo os atuais municípios de Cachoeira do Sul e Restinga Seca. Em função das sucessivas trocas de governos, a ponte só foi concluída em 1871 e destinava-se, basicamente, ao transporte de gado. Porém, ela seria destruída durante a Revolução Federalista (1893-1895), seus pilares, passado mais de um século, ainda podem ser vistos cruzando o rio, cerca de 300 metros da ponte férrea, parte integrante da ferrovia que ligaria Porto Alegre-Uruguaiana.

Antes, contudo, convém mencionar que colonos alemães, a partir de 1857, chegavam ao atual município de Agudo (antiga Colônia de Santo Ângelo) e, por conta própria ou com a intermediação de agenciadores, passaram a comprar terras na margem oposta do Rio Jacuí: tanto no atual território de Dona Francisca, quanto na antiga sesmaria da família Martins Pinto, hoje, território de Restinga Seca. Dava-se origem aos povoados de São Miguel, Vila Rosa, Lomba Alta, Várzea do Meio e um núcleo populacional, com uma dinâmica social e econômica, instalava-se ali: escola, igreja, armazéns, serraria, ferraria, salão de baile, descascador de arroz, fábrica de cerveja, a primeira agência bancária, cartório etc. Na mesma região, viveram Geraldo Martins de Carvalho, o vovô Geraldo, e Martimiano Rezende de Souza, ancestrais fundadores das duas principais comunidades quilombolas restinguenses. Aliás, Martimiano liga a origem de Restinga Seca a Caçapava do Sul (mas isso é outra história).

Só um ponto acrescentar para tratar da origem da cidade (e não do município) de Restinga Seca. Em 1877, iniciou-se a construção da estrada ferroviária que ligaria a capital do estado, Porto Alegre, à fronteira com a Argentina, em Uruguaiana. Em 1883, os trilhos e, com eles, o trem chegaram à Cachoeira do Sul. Na sequência, a partir de 1885, vieram a ponte férrea sobre o Rio Jacuí, a estação de Jacuí e sua caixa d’água, a estação de Estiva e uma caixa d’água para abastecimento dos trens às margens da sanga da Restinga. Mais adiante, viriam Arroio do Só e Santa Maria.

Os produtos despachados pelo trem eram descarregados em Jacuí, Estiva ou Arroio do Só, enquanto os passageiros poderiam desembarcar no pequeno povoado da Caixa d’água, às margens da sanga da Restinga. Como o comerciante Domingos Mostardeiro, que morava em Dona Francisca, descia na parada da Caixa d’água e, em sua viagem de volta, hospedava-se na casa de Justino Martins Pinto, o seu anfitrião sugeriu que tentassem a construção de uma estação ferroviária na dita parada dos trens. Em 1898, após ações de Domingos Mostardeiro e mais alguns comerciantes, o povoado da Caixa d’água já tinha uma estação ferroviária e, aos poucos, retomou o seu nome de origem, Restinga Seca.

Como se sabe, para ir de Restinga Seca a Formigueiro e, depois, São Sepé, era preciso vencer o Rio Vacacaí Grande, não apenas as suas águas, mas as areias que o circundavam e, como contavam o meu avô e o meu pai: eram necessários dias para fazê-lo (mas isso também é outra história).