Tempos bons para a leitura – Prof. Dra. Elaine dos Santos

O ano de 2025 é rico em significados para a História e a cultura sul-riograndense. São, pelo menos, três datas relevantes: 180 anos da chamada Paz de Ponche Verde que pôs fim à Guerra dos Farrapos; 150 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos ao estado e 120 anos do nascimento de um dos maiores prosadores da Literatura produzida no Rio Grande do Sul, Erico Verissimo, falecido em 1975, lá se vão 70 anos de sua morte.
Segundo consta, ainda no final de 1844, Dom Pedro II já teria elaborado os principais tópicos do Tratado de Paz assinado com os farroupilhas em 25 de fevereiro de 1845, mas tornado público somente em primeiro de março daquele ano.
A poetisa Delfina Benigna da Cunha, a cega, nascida em São José do Norte, produziu versos nada simpáticos aos farroupilhas, mas foi o romance “O corsário”, escrito em 1849 e publicado em 1851, no Rio de Janeiro, pelo gaúcho Vale Caldre e Fião, cuja narrativa não é focada na Guerra, que traçou, em parte, a desorganização da Província ao final das batalhas.
Anos mais tarde, o romance “O gaúcho”, escrito por José de Alencar, que nunca esteve no Rio Grande do Sul, nobilitou a figura do gaúcho, o peão em tempos de paz e soldado em tempos de guerra. O Movimento Tradicionalista Gaúcho assumiu esse personagem como grande referência e os CTGs estão aí para afiançar a continuidade das nossas tradições.
No ano de 2024, comemorou-se o bicentenário da chegada dos imigrantes vindos do Reino da Prússia, que costumamos chamar alemães, estabelecendo-se na Real Feitoria do Linho Cânhamo, com fácil acesso fluvial a Porto Alegre.
Em 2025, comemoramos 150 anos da vinda dos italianos, em busca da “cuccagna” (terra da fertilidade). Ficaram mais distantes da capital da Província, em região serrana, portanto, enfrentaram maiores obstáculos.
Participei de uma antologia composta, basicamente, por descendentes de italianos que narraram as histórias familiares: a partida da terra de origem; a despedida dos familiares; as mortes ocorridas na travessia marítima; as longas e penosas viagens nos carretões; as acomodações toscas e inseguras dos barracões.
Para além do consagrado romance (e filme) “O quatrilho” (1985), de José Clemente Pozenato, aconselho a leitura de “A Cocanha” (2000) e “A Babilônia” (2006), do mesmo autor, que formam uma espécie de trilogia da vida simples, cotidiana das colônias, sem mitificação.
Eu sempre penso em todos os imigrantes que aportaram por aqui (isso incluí suíços, finlandeses, poloneses, entre outros) e as dificuldades que encontraram: mato, animais desconhecidos, calor, sementes que não se adequaram ao chão, ao clima, o sacrificado trabalho braçal.
Por outro lado, Charles Kiefer conta as dificuldades dos primeiros plantadores de soja, na década de 1970, na região de Santa Rosa: eles plantavam, a chuva “lavava” a plantação e eles perdiam as sementes. Mais tarde, aprenderam a importância das curvas de nível.
Entre os escritores gaúchos, eu sou fã de carteirinha de João Simões Lopes Neto, mas não posso negar que Erico Verissimo despertou o meu interesse para a História do Rio Grande do Sul com a narrativa épica que se encontra em “O Continente I” e “O Continente II”, os dois volumes iniciais de “O tempo e o vento”.
Os volumes de “O retrato”, dedicado ao médico Rodrigo Cambará, e “O arquipélago”, que encerra a narrativa, quando descobrimos que Floriano, filho de Rodrigo, neto de Licurgo, bisneto de Bolívar, trineto do capitão Rodrigo Cambará, é o contador da história da família, têm um tom mais intimista, mas valem muito a leitura.
Aliás, ler Erico Verissimo é sempre um prazer, um deleite. Considerando que a minha formação é marcadamente em Sociologia da Literatura – quando a Literatura analisa a sociedade em que se insere e a sociedade que recebe a obra – não posso deixar de sugerir outra obra conhecidíssima do autor, refiro-me a “Incidente em Antares”, os mortos insepultos, que deixam a frente do cemitério e voltam ao povoado, no dia 13 de dezembro de 1963 (cinco anos antes da decretação do Ato Institucional nº 5, pelo governo federal), e expõem a podridão da sociedade de Antares, o antigo Povinho da Caveira.
E, na linha das sugestões de leitura, a Guerra dos Farrapos é pródiga em leituras e releituras feitas pela Literatura: “Os varões assinalados”, de Tabajara Ruas; “A casa das sete mulheres”, de Letícia Wierzchowski; “Netto perde sua alma”, de Tabajara Ruas; “A ferro e fogo – Tempo de solidão”, de Josué Guimarães; “A prole do corvo”, de Luiz Antonio de Assis Brasil, entre outros. Boa leitura!