Um era sonho, mil é surreal! Sérgio da Silva Almeida- Crônica   

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Vinte anos se passaram desde que, cheio de expectativas, apresentei meus textos aos diretores de jornais. A cada tentativa frustrada, voltava para casa murcho, mas a chama da crença permanecia acesa, alimentada pela fé de que, mais cedo ou mais tarde, faria parte de um seleto time de colunistas. Sonhava em escrever textos capazes de inspirar, transmitir um sopro de esperança ou oferecer uma simples lição extraída do cotidiano.

 

Houve momentos em que pensei em “jogar a toalha”, até que Telma Quintana, então diretora de O Correio de Cachoeira do Sul, acreditou no meu trabalho. “Seu texto sai amanhã!”, disse ela, entusiasmada. Imagine um cara assustado. Esse cara era eu! Assim começou minha história.

 

Mas, no início, nem tudo foram flores. Com o artigo “Se chiar resolvesse, sal de fruta não morria afogado” – uma reflexão bem-humorada sobre o hábito de reclamar – aprendi uma das lições mais valiosas da escrita: comunicar não é apenas o que se escreve, é o que o leitor compreende. Por imaturidade na forma de me expressar, fui alvo de uma enxurrada de críticas no Fórum do Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul.

 

Um leitor me deu um verdadeiro “puxão de orelha”: “Que colocação infeliz essa tua, Sérgio Almeida… Quem não reclama é porque está satisfeito com a situação”. Outro “fez pouco caso”: “O articulista estava se prevenindo porque sabia que a chiadeira seria grande. Toda quarta?! Putz”. E ainda houve quem “desceu a lenha”: “O jornal poderia ter nos poupado deste colunista”.

 

Diante de tantas vaias, tentei mudar meu estilo, mas os leitores não perdoaram: “Não queremos você escrevendo sobre política… seja você mesmo”. Com o tempo, compreendi que as críticas estavam me ajudando a evoluir. Mais importante ainda, entendi que a liberdade de expressão é uma via de mão dupla: se os diretores dos jornais me concedem o direito de expor livremente minhas opiniões, o leitor também tem o direito de contestá-las e até desafiá-las.

 

Hoje, ao alcançar a incrível marca de mil textos publicados em jornais, meu coração transborda gratidão ao diretor do Jornal do Garcia, Luis Garcia, e a você, leitor sepeense, que me acompanha nessa caminhada. Resumo essa trajetória em uma frase: “Um era sonho, mil é surreal!”.