Uma parada na Terra das Carretas- Profa. Dra. Elaine dos Santos

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Ao viajante que deixava Restinga Seca era preciso enfrentar a epopeia de cruzar o rio Vacacaí Grande: canoas, balsas. Do lado de lá do rio, desde 1944, havia o Segundo Distrito de São Sepé, Formigueiro.

Formigueiro emancipou-se segundo a Lei Estadual nº 4.575 de 09 de outubro de 1963. Em 05 de outubro de 1970, com pompa e circunstância, foi inaugurada a ponte provisória sobre o Passo das Tunas. Era uma ponte férrea, já usada que servira ao Passo do Verde durante alguns anos e que, temporariamente, facilitaria a travessia sobre o Rio Vacacaí Grande.

Pelo menos, resolvia-se o problema da baldeação. Vencida as Tunas, era preciso enfrentar estrada (a redundância é óbvia, mas cabe fazê-la, estrada de chão). Seguindo à direita, a velha e conhecida Sanga da Catirina. Mas o ônibus seguia pelo Fundo do Formigueiro… Como é longe Formigueiro!

Segundo se conta, o nome Formigueiro teria origem num comentário feito por um engenheiro das comissões demarcatórias, que cruzava por ali e, ao ver tantas carretas no lugar, que era ponto de pousada de carreteiros, teria dito que pareceria um “formigueiro”. Há outras fontes, porém, que referem as longas filas de carretas que, com dificuldade venciam o “areião” junto ao Passo das Tunas e, vagarosamente, rumavam até a atual sede do município, como se fossem formigas enfileiradas.

O primeiro registro histórico sobre Formigueiro associa-se a uma estância de indígenas catequizados por jesuítas, por volta de 1750, a Fazenda São João, situada na Estrada da Pitangueira (no trajeto entre as Tunas e a cidade de Formigueiro, passando pela Catirina, mas aconselho um aplicativo para localização, porque ela ainda existe e pode ser visitada, mas creio que com agendamento).

A população nas imediações da fazenda à entrada do século XIX (19) já era relativamente grande e, quando o Rio Grande do Sul foi dividido em municípios, como aconteceu com toda a nossa região, aquelas terras ficaram subordinadas a Rio Pardo, depois passaram à administração de Cachoeira do Sul e, finalmente, São Sepé.

No local em que se situa a cidade de Formigueiro existia um povoado, cujo nome era, de fato, Formigueiro, recebendo a denominação efetiva em 15 de novembro de 1827, na condição de distrito. Ali, viviam pequenos proprietários agrícolas, em sua maioria, ex-trabalhadores de estância, soldados que davam baixa das tropas oficiais e, aos poucos, instalaram-se ferreiros, carpinteiros etc.

Em 1876, com a emancipação de São Sepé, Formigueiro tornou-se distrito daquele município. No mesmo ano, começava o processo imigratório, com predomínio de alemães: Krun, Germany, Scherer, Lorentz, Dellinghausen e, mais tarde, Becker, Wegner, Gass, Kath, Schirmann, entre outros. Os italianos chegariam no século seguinte, em 1910: Filipini, Zambon, Martini, Rosso, Cassol, Argenta, entre outros. As colônias de imigrantes foram muito importantes para o progresso do então distrito.

Outra ação relevante foi determinada, anos antes, por Antão Faria, que fora nomeado diretor de obras públicas do estado e determinou a derrubada das matas na sesmaria Aroeira, abrindo a Picada Grande e, mais que isso, ampliando os horizontes para o comércio formigueirense. O meu avô materno, nascido em 1899, contava das viagens que fazia, comercializando produtos agrícolas de Agudo, onde residia, para aquela região.

O movimento emancipacionista veio no início dos anos 60, do século passado, tendo, na coordenação geral: João Pedro Bottega, Elóy Milton Frantz, João Manoel Lopes da Silva, Pedro Jorge Calil, que constituíram a comissão que liderou a emancipação.

Das viagens a São Sepé, eu lembro da passagem pelas Tunas em canoas e na ponte provisória/permanente, da longa viagem pelo Fundo do Formigueiro, do alívio que representava chegar à cidade e da estrada, verdadeiro “sabão” – em tempos de chuva – dali até a BR 392. Boas memórias e só tem memórias para contar quem viveu bons momentos