Vou acampar nas Tunas: Elaine dos Santos

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O Rio Vacacaí Grande é referido nos diários de viagem do padre que acompanhava Gomes Freire de Andrade e suas tropas no caminho para as Missões, quando foram interrompidos às margens do Rio Jacuí, por um grupamento de indígenas missioneiros, um pouco acima da confluência, exatamente, com o Vacacaí Grande.

As comissões demarcatórias de fronteira que passaram pela região dando cumprimento às determinações dos sucessivos tratados entre portugueses e espanhóis também referem-no como “Rio Bacacay”. Aliás, o ano de 1787, é a primeira vez que se tem o nome de “Restinga Secca”, associado ao Rio Bacacay, registrado também nos diários de viagem desses homens que avançam sobre o território cumprindo a sua labuta.

Conforme as pesquisas de Alex Dahlke, em seu livro “Praia das Tunas: Herança de ouro às margens do Vacacaí”, na década de 1950, o rio Vacacaí Grande era navegável, sendo que, por ele, passavam as “gasolinas”, pequenas embarcações movidas à gasolina, que transportavam mercadorias e cereais por suas águas. Elas costumavam atracar em um porto que existia à margem do rio, do lado de Formigueiro. Daquele lado, também existia o engenho e descascador da família Giuliani e uma casa de roupas, mantimentos e mercado que atendia boa parte da região. Nos períodos de estiagem, quando o leito do rio não permitia a navegação, o transporte dos produtos era feito por carretas de boi até a linha férrea em Restinga Seca.

Nos dois lados da estrada em que hoje existe a via asfaltada, ERS 149, havia uma vila de moradores com mais de vinte residências, uma capela, uma pousada e uma oficina mecânica.

Até os anos 1960, quando não existia a ponte de ferro, a passagem de uma margem a outra do rio era feita pela balsa, por canoas ou pela “faixinha”. Pessoalmente, lembro-me da passagem feita em canoas pelo rio em tempo de cheia – para a criança que eu era, era muito mais que um rio, era um verdadeiro mar, que parecia querer engolir as frágeis canoas. Naquele tempo, Nildo Argenta, o proprietário da empresa de ônibus, precisava usar dois ônibus: um deles ficava na margem restinguense, o outro ficava na margem formigueirense. Aqui, um parênteses: quando a minha mãe anunciava que iríamos a São Sepé para visitar uma das minhas tias, irmã dela, ambas falecidas, eu já começava a resmungar, mesmo depois da ponte instalada – e que era considerada velha e perigosa, desde a sua instalação – sempre me pareceu arriscado ir a São Sepé, quer dizer, cruzar o Rio Vacacaí Grande.

A balsa ou barca fazia a travessia de pessoas, caminhões, ônibus, carretas de boi, carroças etc. A barca era toda construída de madeira sobre duas pranchas em duas grandes canoas (não se pode esquecer que os veículos, naquela época, eram bem menores, feitos de dois eixos). Os barqueiros eram Gustavo Thomaz, o pioneiro, e Mariante Rodrigues da Silveira e seu sócio, Osmar Rita, que, mais tarde, vendeu a sua parte para Artidor Rodrigues da Silveira (Tio Fio) – irmão de Mariante.

A barca operava no local em que está instalada a ponte e, abaixo dela, como ainda se pode ver, havia a “faixinha” para a travessia do rio em épocas de estiagem. É uma estrada de pedra, construída pela família Giuliani, com a força de bois de canga, entre eles, o “Alegre” e o “Divertido”.

Em 05 de outubro de 1970, foi instalada a atual ponte que permite a passagem de veículos sobre o Rio Vacacaí, uma estrutura de ferro da antiga Ponte do Verde, localizada no Balneário do Passo do Verde, distrito de Santa Maria. A estrutura foi construída em cima de sete pilares e duas cabeceiras de concreto assentados quase exclusivamente pela força braçal dos operários. Para a construção da ponte, os operários do DAER acamparam na casa do senhor Jorge Pessoa, que era usada por muitos viajantes como hospedaria. Ali, muitos operários aprenderam a ler e a escrever com Elga Pessoa, nora do dono da casa, então professora na localidade de Aparecida.

Em 28 de janeiro de 1972, a Câmara Municipal aprovou e o então prefeito de Restinga Seca, Aldemar Müller, sancionou a Lei Municipal nº 273/72 que autorizava o Poder Executivo a adquirir terras na localidade do Passo das Tunas para a formação e urbanização do balneário. Com o passar dos anos, novos investimentos foram feitos.

Fonte consultada: DAHLKE, Alex. “Praia das Tunas: Herança de ouro às margens do Vacacaí”. São Paulo: LP-Books, 2013.